Projetos na Amazônia miram educação ambiental para a manutenção do turismo

O avanço do desmatamento na Amazônia disparou alarmantes 22% nos últimos dois anos, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). A cobertura vegetal da região se estende por nove estados da federação, o que equivale a 60% do território nacional.

Queimadas, garimpo ilegal, o avanço agropecuário e a biopirataria alavancam a devastação e trazem prejuízos climáticos que reverberam diretamente no aquecimento global, como também castigam as populações —são 25 milhões de brasileiros vivendo na Amazônia Legal.

O futuro da Amazônia —pulmão do mundo— é o fio condutor da Fundação Almerinda Malaquias, organização não governamental criada no ano 2000 por Miguel Rocha da Silva e Jean-Daniel Vallotton, que vem atuando como centro de educação ambiental para crianças e jovens entre seis e 17 anos.

O objetivo é prepará-los para protagonizar resoluções ambientais para manter esta floresta toda de pé.

Uma infraestrutura de salas de aula, centro de eventos, cozinha e refeitório acolhe hoje 190 crianças no contraturno escolar, para aulas e atividades multidisciplinares. Se no início contou com recursos de uma organização suíça, com o passar do tempo, a fonte secou.

O jeito foi mirar em outros possíveis patrocinadores. Caso de Ruy Tone, dono de uma construtora em São Paulo. Em 2014, ele assumiu a instituição, por meio da qual pretende reformar ou construir 25 escolas em comunidades isoladas.

Trata-se do Projeto Educação Ribeirinha, cujo programa é prover educação básica de qualidade, melhorar a infraestrutura das escolas e casas de apoio ao professor, incluindo a implantação do sistema de energia solar, internet, cozinha para preparo da merenda e a construção de sanitários e fossas.

Ruy também é o anfitrião da Expedição Katerre e proprietário dos três barcos do empreendimento, entre eles o Jacaré Açu, além do hotel de selva Mirante do Gavião e o restaurante Flutuante do Luar, de onde partem as expedições.

“Desde 2004, estas operações turísticas buscam a comunhão com profissionais ribeirinhos, entre incursões pela selva, trilhas aquáticas pelos igarapés e matas de igapó, focagem de espécies da fauna amazônica e incentivo à produção de artesanato”, conta.

“As empresas asseguram uma taxa de visitação, que auxilia na manutenção da estrutura destas comunidades e o bem-estar de seus moradores.”

Viajar pelo Rio Negro é estar diante de uma questão crucial: a urgente preservação da floresta e o legado deixado por nomes como Chico Mendes, Dorothy Stang, Dom Pedro Casaldáliga, Marcos Veron, Marçal “Tupã” de Sousa e Davi Kopenawa.

A pesquisadora Ane Alencar, geógrafa pela UFPA (Universidade Federal do Pará), doutora em recursos florestais e conservação pela Universidade da Flórida e diretora de Ciência do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), ressalta em sua pesquisa que o desmatamento, hoje impulsionado pelo crime organizado, vem se aproximando cada vez mais do coração da Amazônia.

Para ela e Paul Clark (uma espécie de “herói escocês na Amazônia”), é preciso muito mais do que um choque de governança para expulsar invasores. É necessário ensinar agenda climática ainda na infância, treinar os professores da rede pública e conscientizar as famílias.

Na Escola Vivamazônia, na comunidade Gaspar, no Rio Jauaperi, há crianças entre seis e 14 anos que, diariamente, frequentam as aulas ministradas pelo casal Paul e Bianca, com o auxílio do filho Ian, também aluno da escola, canoeiro, exímio pescador e já um profundo conhecedor da floresta.

Milton Nascimento esteve por lá, na escola. Não só visitou como também fez um show único e exclusivo para os alunos e professores.

Fonte: Folha de S.Paulo