São Paulo é uma viagem sem passagem de volta, define escritora

A cidade de São Paulo, que celebra 467 anos neste 25 de janeiro de 2021, recebe inúmeros novos moradores todos os anos –eu, mesmo, cheguei aqui em 2012. Além dos incontáveis turistas.

A escritora e consultora especialista em viagem e intercâmbio Carol Santin (@carol_santin), que já escreveu sobre sua viagem a Portugal, agora fala de sua relação conturbada com a capital paulista.

Em tempos de coronavírus nossas viagens ficaram mais restritas. Mas ainda podemos relembrar momentos marcantes que tivemos em outras cidades. Que tal compartilhar sua história de viagem com o blog Check-in? É só escrever para o email [email protected].

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São Paulo, uma vez por ano eu quero terminar com você. Você já conhece essa história.

Sabe quando quero virar a mesa, tirar os quadros da parede e quebrar alguns copos. Sabe quando abro o armário, tiro a mala e começo a jogar as roupas dentro.
Você também conhece meu discurso repetido, que eu cansei e que não dá mais. Reclamo da sua falta de gentileza, de como você rouba meu tempo com esse trânsito louco e suas distâncias de vários países dentro de uma cidade.

E você sabe que não pode argumentar de volta. Aquilo que te faz tão grande é também o que te faz tão limitado. Você sabe que eu não tenho medo de ir embora porque eu já fui uma vez.

Você é uma viagem sem passagem de volta, é isso o que você é.

Quem te toca o solo, ouve seus sons e encara sua vista infinita de prédios espremidos nunca mais se livra de algumas perguntas. Como é que pode uma cidade ser assim?

Você vive nas suas contradições e hoje, no dia do seu aniversário, eu preciso dizer que lembrei.

Lembrei porque escolhi ficar.

Eu gosto desses seus braços enormes que abraçam de norte a sul, de leste a oeste. Eu gosto desse seu jeito de arrumar espaço pra quem chega mesmo com a casa lotada e toda desarrumada. Eu gosto das suas mesas nas calçadas, da sua cerveja gelada, da Paulista fechada.

Eu gosto dos rostos que escondem os sonhos dos que vieram até aqui só porque acreditam que você tem esse poder: o de realizar sonhos. Eu gosto das histórias que passamos juntos e das pessoas que você me apresenta.

Lembro-me em especial daquela noite em que senti seus braços largos abraçando aquela mesa na esquina da Joaquim Eugênio de Lima com a Paulista. Éramos tantos e mesmo tão diferentes, concordamos com as cervejas em litro e as porções de pasteis. Conversas cruzadas, risadas altas, despedidas de olho no relógio que não podia passar da meia-noite, senão o metrô fechava. Éramos tantos e tão paulistanos.

São nesses momentos que eu te acho a cidade mais legal de mundo. Amanhã, a gente pode voltar a brigar, mas hoje… hoje não.

Parabéns São Paulo.

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Aviso aos passageiros 1: Se a ideia é ir pro meio do mato, a Nathaly Fogaça, idealizadora da Agência Vamos, empresa turística voltada ao público feminino, dá a dica de visitar a Cachoeira (ou Cascata) da Baronesa, no Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro

Aviso aos passageiros 2: Se você se interessa pelo Norte, a turismóloga Isadora Santos esteve em Belém e compartilha o que viu na cidade

Fonte: Folha de S.Paulo