Turistas se aglomeram para fotos em cascatas com 750 mil litros de água na Alemanha

Uma estátua de oito metros de Hércules pelado observa do topo de uma montanha as hordas de turistas que chegam à pequena cidade de Kassel, no centro da Alemanha, para visitar a maior exposição de arte do planeta, a Documenta, que acontece a cada cinco anos.

Não seria necessário, no entanto, que houvesse a mostra de arte contemporânea para que os visitantes mergulhassem em obras de arte por ali, na cidade com 200 mil habitantes a 200 km de Frankfurt.

Com mais de 300 anos, o Hércules desnudo faz parte de um monumento barroco colossal que ajudou a colocar o principal parque de Kassel, o Wilhelmshöhe Bergpark, na lista dos patrimônios mundiais da Unesco.

A estátua de cobre esverdeada está instalada em cima de uma pirâmide de 30 metros e abaixo de uma estrutura de escadarias de pedra que, quando acionada, se transforma numa série de cascatas de 350 metros.

E o show não para por aqui. Os 750 mil litros de água necessários para formar as cascatas seguem para outras quatro estruturas no parque de 560 hectares, num sistema de pressão natural criado há três séculos. Os reservatórios e as tubulações são subterrâneas, e as eclusas são abertas manualmente.

O circuito das águas de Wilhelmshöhe Bergpark acontece apenas duas vezes por semana, às quartas-feiras e domingos, e somente nos meses mais quentes do ano, de maio a outubro. Apesar de não fazer parte da programação oficial da Documenta, o parque instiga um espírito de coletividade caro aos curadores desta 15a edição da mostra, um coletivo da Indonésia que convidou outros grupos de arte para tomar galerias e espaços públicos de Kassel.

Em uma tarde ensolarada de domingo em junho, uma multidão aguardava nas laterais das escadarias de Hércules. Pontualmente às 14h30, as primeiras linhas de água começaram a surgir, passando por um groto, formando pequenas cachoeiras e finalmente virando uma abundante enxurrada escadarias abaixo.

Após o êxtase geral registrado em fotografias e selfies, pontuado por seguranças atrapalhados evitando que turistas pulassem nas águas, o pessoal foi se deslocando em uníssono em direção à próxima estrutura, por um caminho de trilhas arborizadas do parque.

Às 15h05, lá estava a aglomeração de novo, desta vez à espera da formação da cachoeira artificial Steinhöfer. O mesmo se repetiu 15 minutos depois na Ponte do Diabo, e dez minutos depois no Aqueduto, com uma queda d’água de 30 metros.

Às 15h45, para encerrar o percurso de 2,3 km, um jato de 50 metros irrompeu na lagoa do castelo do parque, pegando de surpresa os desavisados. O gêiser artificial era o mais alto do mundo quando construído, em 1767.

As estruturas, que ficam ligadas por apenas dez minutos, começaram a ser construídas no final do século 17 por Karl I von Hessen-Kassel e completadas nos séculos seguintes por seu bisneto. Tamanha sofisticação de arquitetura sedimentava o poder da família na região, subjugando o poder das águas num grande feito exibicionista.

Wilhelmshöhe Bergpark também guarda um palácio construído a partir de 1786. Usado por reis prussianos e imperadores alemães no passado, hoje é aberto ao público com uma coleção de pinturas de mestres do século 17 e esculturas da Grécia Antiga e Império Romano.

Há também o castelo de Löwenburg, levantado um pouco depois e um dos primeiros a imitar as ruínas dos castelos medievais. O local teve partes destruídas na Segunda Guerra Mundial e atualmente passa por restaurações sem data de finalização.

Mais de 60% de Kassel é coberto de áreas verdes, com mais parques e jardins a serem explorados. O parque estadual Karlsaue fica no centro da cidade e é palco de algumas instalações da Documenta, além de ter uma ilha artificial chamada Siebenbergen, sede de um jardim cuidadoso repleto de flores nativas, espécies exóticas do mundo todo e alguns pavões (entrada 3 euros).

Para quem visitar Kassel fora da época da Documenta, que termina após 100 dias em 25 de setembro, há trabalhos históricos de edições anteriores que ficaram permanentes.

Um exemplo é o “Vertical Earth Kilometer”, feito por Walter De Maria (1935-2013) em 1977: trata-se de uma barra de um quilômetro de comprimento enfiada verticalmente na terra, com apenas a superfície da ponta de 5cm de diâmetro à mostra no chão.

É preciso paciência para achar a obra, escondida sob a areia e pessoas que caminham por cima sem dar atenção.

O trabalho fica na praça em frente ao museu Fridericianum, principal espaço da Documenta. Ali também estão duas das 7.000 árvores plantadas por voluntários ao longo de cinco anos a partir da Documenta de 1982, parte do projeto de land art “7000 Oaks” de Joseph Beuys (1921-1986).

Fonte: Folha de S.Paulo