Veja dicas ao contratar seguro para viagem e não cair em armadilhas

Muitas vezes relegado a segundo plano no planejamento da viagem, o seguro pode ser a diferença entre um contratempo pontual e a contratação de dívidas que podem levar anos a serem pagas. Especialistas ouvidos pela Folha dão dicas para encontrar alternativas para atender necessidades do turista em cada destino.

Qual diferença entre seguro de saúde, de viagem e o de bandeiras de cartão de crédito?

Seguro de saúde atende apenas a necessidades ligadas a emergência hospitalar e, eventualmente, odontológica.

No Brasil, seguro de viagem costuma ter amplitude maior, envolvendo tanto questões práticas da viagem quanto emergências médicas. São os produtos mais vendidos por operadoras do setor, diz Mariana Aldrigui, professora do curso de lazer e turismo da USP e presidente do Conselho de Turismo da Fecomércio SP.

Além deles, empresas de cartão de crédito oferecem uma opção vinculada à compra da passagem que cobre questões como extravio de malas. É mais raro que inclua despesa médica, por isso é importante consultar a apólice para saber se é necessário buscar proteções adicionais.

O que observar na hora de escolher a cobertura médica?

Especialistas recomendam listar a relação de coberturas importantes para a viagem para que não haja exagero, mas também não falte. O atendimento à saúde deve ser prioritário em todos os casos, e a pesquisa deve ser feita levando em conta fontes confiáveis.

“Outra coisa importante é saber como é o relacionamento da seguradora com os clientes, especialmente no momento da viagem. Se tem atendimento 24 horas no seu idioma, afinal você pode estar em uma situação urgente, precisando se comunicar com a seguradora”, afirma David Guedes, advogado da área de relacionamento do Idec, o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor.

É interessante também levar em conta se o suporte é imediato ou se é feito mediante um reembolso —alternativa não recomendada pois pode deixar o turista em uma situação financeira bem difícil. “Isso precisa ser visto antes, não adianta descobrir na hora”, diz Guedes. Outra dica é comparar valores cobertos em relação aos custos médios dos serviços em cada país. “O custo da tranquilidade é imbatível”, afirma Aldrigui.

Como encontrar a melhor opção de acordo com o destino e a atividade?

Passear por Roma traz riscos diferentes do que surfar ondas gigantes na Indonésia. Até praticantes de esportes altamente treinados estão mais expostos. Portanto, o seguro deve levar em conta o tipo de viagem a ser feita.

Aldrigui recomenda entrar em contato com a operadora para checar se o produto oferece a proteção necessária. Apesar de ser impossível antever todos os supostos problemas, é viável checar o que tem mais chance de acontecer.

“Em Paris houve um período em que as pessoas estavam sendo muito assaltadas. Em Seul tem acontecido bastante também. Se há esse risco, talvez seja o caso de contratar uma cobertura específica para isso”, afirma Guedes.

“Por uma diferença pequena de preço você pode ter mais serviços e mais facilidades no seguro contratado”, afirma a professora da USP

Vale a pena contratar seguros de empresas fora do Brasil?

Sim. O neurocientista Ricardo Parolin Schnekenberg precisou obter um seguro com cobertura médica ilimitada para estudar no Reino Unido em 2010, mas não encontrou opções no mercado nacional, apenas no exterior. No entanto, as apólices custavam uma fração do valor das melhores opções brasileiras.

“Talvez as pessoas não entendam o quanto é caro qualquer cuidado médico no exterior”, afirma o médico, que postou no Twitter dicas para a contratação desse tipo de serviço. “Na maior parte dos lugares você será atendido, mas sairá de lá com uma bela conta. Isso varia entre países, e os Estados Unidos estão entre os mais caros. Lá, uma conta médica pode superar os US$ 500 mil com certa facilidade. E a maioria dos seguros vendidos no Brasil tem teto de US$ 30 mil. Se você precisar ser internado, já passa disso.”

Mesmo algumas das melhores opções também limitam a cobertura máxima, e os seus valores aumentam quando o comprador declara viver no Brasil. Uma das desvantagens de se optar por seguradoras que não têm escritório no Brasil é que o turista terá de fazer o processo do possível sinistro em inglês.

Ainda é necessário contratar proteção contra a Covid?

A pandemia criou todo um novo segmento dentro do mercado de seguros, com reembolso para testes e orientação local para casos de haver uma contaminação. Por outro lado, para garantir que as viagens seguissem acontecendo, houve uma adaptação das empresas, garantindo mais facilidades para remarcação de voos e readequação de hotel.

Para Aldrigui, um plano de saúde com cobertura em todo o território e quatro doses de vacina já são suficientes para fazer viagens nacionais, mas os preços foram se equilibrando com o tempo e hoje já quase não faz diferença incluir essa proteção no seguro.

“Para viagens internacionais ainda é uma boa ideia”, ressalva. “Cada país está reagindo de maneira diferente. A quantidade de nações mudando leis está alta, e ter o seguro é uma boa para receber orientação antecipadamente.”

É obrigatório contratar um seguro para viagens internacionais?

A resposta é sim, e isso pode ser bastante sério dependendo do caso. Países como o Qatar, por exemplo, não permitem a entrada de turistas sem seguro de viagem, e as opções locais para evitar de ter a permanência barrada são invariavelmente mais caras.

“Em vários países existe um valor mínimo que precisa estar coberto por esse seguro. O cliente precisa estar atento às exigências de cada embaixada na hora de pesquisar a melhor opção para sua viagem”, afirma Guedes, advogado do Idec.

Como comparar diferentes produtos?

Há no Brasil diferentes plataformas com tabelas de comparação de coberturas, de valores e de totais cobertos para cumprimento de exigências do país visitado. Porém, segundo o advogado do Idec, é bom consultar e contratar o seguro direto no site da seguradora para evitar surpresas.

“Pode ser que no site da empresa o preço esteja mais atualizado, e esse valor vai prevalecer.” Outra alternativa são fóruns em redes sociais como o Trip Advisor ou o Instagram.

“Prefiro recomendações de pares ou agentes de viagem, que são experientes e podem guiar essa escolha. Nem sempre o produto mais barato vai ser o mais adequado ou o mais caro vai ser o que você precisa”, diz Aldrigui.

Fonte: Folha de S.Paulo

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