Veja quais são as exigências do uso de máscara mundo afora

Com o agravamento da pandemia, viajar para fora do país está cada vez mais difícil e arriscado. Quem conseguir poderá encontrar regras sobre uso de máscara diferentes do que está acostumado no Brasil.

É comum que em espaços abertos, como em ruas e parques, o uso não seja obrigatório, ao contrário do Brasil, que exige máscaras em qualquer ambiente público ou privado que seja acessível à população.

Na Irlanda, onde vive a profissional de marketing digital Camila Maldonado, 26, o uso de máscara nas ruas não é obrigatório, mas recomendado em áreas movimentadas. “Só por volta de novembro e dezembro, quando o número de casos ficou muito alto e as compras de Natal levaram muita gente para as ruas, o governo passou a recomendar o uso em lugares abertos e movimentados”, afirma a brasileira. “Mas só metade das pessoas usam.”

Por lá, as máscaras mais comuns são as de pano.

A situação é bem diferente na Alemanha, onde desde o final de janeiro é exigido no mínimo o uso de máscaras cirúrgicas no transporte público ou em lojas

Cada região do país pode criar suas regras. No estado da Baviera, por exemplo, só são permitidas máscaras do tipo PFF2, que ficou famosa pelo seu nome americano, N95.

É uma máscara de estrutura mais rígida, que veda o rosto e costuma ser presa por tiras de elástico na nuca e no pescoço, não nas orelhas.

“Se você estiver com uma PFF2, tem um alto grau de proteção mesmo em ambientes mal ventilados”, diz Vitor Mori, pesquisador, doutor em engenharia biomédica e integrante do Observatório Covid-19 Brasil.

A brasileira Luciana Rosolino, 40, que mora em Munique, na Alemanha, conta que precisa usar a proteção em lojas, no transporte público e em determinadas regiões da cidade. “Quem não usar no transporte público não é multado, mas é retirado e orientado.” Já se a pessoa estiver circulando sem máscara pelo centro da cidade, pode levar multa.

O governo alemão distribuiu 27 milhões de máscaras PFF2 para idosos e portadores de comorbidades.

País vizinho, a Áustria passou a exigir o uso de máscaras equivalentes às PFF2 no transporte público e no comércio. Já a França aconselhou seus cidadãos a deixarem a máscara de pano de lado e usarem a versão cirúrgica ou PFF2.

Segundo Mori, a transmissão do vírus é dificultada em ambientes abertos e arejados, o que embasa a decisão de alguns países de não exigirem máscaras nesses casos. “A transmissão ocorre quando uma pessoa infectada emite aerossóis, que ficam em suspensão no ar, e outra pessoa suscetível os respira. Ao ar livre, esses aerossóis se dispersam”, diz o pesquisador.

O médico infectologista do hospital Israelita Albert Einstein Gustavo Johanson ressalta que as decisões sobre onde se deve usar máscara não são apenas biológicas, mas também políticas e de logística. “Aderir a elas tem outros significados, como o de cidadania, de dar o exemplo”, afirma.

Nos Estados Unidos a regra sobre máscaras varia conforme o estado, e o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) recomenda usar duas máscaras ao mesmo tempo —uma de pano por cima de uma cirúrgica, para ampliar a proteção.

Como conta Mori, que vive no estado de Vermont, nos EUA, é comum ver as pessoas com duas máscaras, apenas com máscaras de pano ou com a KN95, padrão chinês equivalente ao N95 americano, popular no país, mas que tem elásticos presos na orelha, o que a torna sua vedação menos eficiente.

Com 15,6% da população americana vacinada e a queda no número de casos, os governadores do Mississipi e do Texas anunciaram na terça (2) que não vão mais exigir máscaras. Para Johanson, é uma decisão precipitada. “Não sabemos se as vacinas serão efetivas contra as variantes que surgem a todo momento.”

No Brasil, as máscaras mais usadas são as de pano. Como explica Mori, a proteção delas varia conforme o tecido, o número de camadas e, principalmente, o ajuste ao rosto.

As máscaras cirúrgicas e as de pano funcionam mais para proteger as outras pessoas das partículas emitidas por quem está de máscara. “O conceito da máscara de pano é que todo mundo protege todo mundo, mas, para isso, você precisa ter grande adesão da população”, diz Mori.

A OMS (Organização Mundial da Saúde) ainda indica o uso de máscaras de pano para a população em geral, com menos de 60 anos. A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) também incentiva o uso da proteção de pano e afirma, em seu site, que máscaras cirúrgicas e N95 devem ser reservadas aos profissionais de saúde.

O uso de máscaras cirúrgicas já era comum nos países asiáticos antes da Covid-19, o que contribui para que a região não esteja sofrendo tanto com a pandemia quanto o mundo ocidental.

Companhias aéreas restringem tipos de proteção em voos

Pensando no nível de proteção oferecido, algumas companhias de aviação já não aceitam qualquer tipo de proteção facial em seus voos.

A Latam, por exemplo, restringiu desde a última segunda (1º) o embarque com máscaras que tenham válvulas, além de lenços e bandanas. Segundo a empresa, isso é “devido à comprovada baixa eficiência desses itens na filtragem de vírus e bactérias”.

Como explica Vitor Mori, as válvulas, presentes geralmente em alguns modelos de máscaras PFF2, servem para facilitar a saída de ar da respiração, que não é filtrado. O ar só passa pelo tecido filtrante quando é inspirado. Assim, uma pessoa doente que esteja com essa máscara pode contaminar outros à sua volta.

Desde 1º de fevereiro, a alemã Lufthansa só permite máscaras cirúrgicas ou PFF2, desde que sem válvulas. É a mesma orientação da espanhola Iberia e da portuguesa TAP.

Para Gustavo Johanson, uma máscara de pano já ajuda a evitar contaminações em ônibus e aviões, se aliada ao álcool gel e distanciamento.

Já Mori recomenda a PFF2 por todo o trajeto. Escudos faciais (“face shields”) e luvas não são necessários.

Fonte: Folha de S.Paulo