Galo da Madrugada reverencia pela primeira vez pretos e pardos

PANROTAS / Karina Cedeño

O Galo Ancestral é um reconhecimento à história e toda riqueza do legado afrodescendente

O Galo Ancestral é um reconhecimento à história e toda riqueza do legado afrodescendente

Pela primeira vez, o Galo da Madrugada reverencia pretos e pardos, que são pilares da cultura carnavalesca e do surgimento do frevo. Para o Carnaval deste ano, o designer e consultor pernambucano Leopoldo Nóbrega criou o “Galo Ancestral”, alegoria que já é exibida na ponte Duarte Coelho, no Recife. A obra de arte gigante marca o encerramento do hiato de dois anos de suspensão da folia devido às causas sanitárias.

Para o secretário de Cultura do Recife, Ricardo Mello, o encontro com o Galo Ancestral reverencia a cultura popular inerente ao ciclo momesco recifense. “Quando falamos em uma volta ‘com todos os Carnavais’, estamos atentos à diversidade, à pluralidade única desse ciclo cultural, no Recife, mas também às referências temporais, das várias épocas, encontrando assim as origens da folia. Isso nos remete à necessária reverência feita à cultura popular, ao surgimento de tudo, a quem está na base de um Carnaval singular, construído pela alegria e pela resistência das nossas manifestações originais, que norteiam e inspiram a Cidade da Música e da Cultura Patrimônio, o Recife, a ser o que ele é. Essa foi a fonte conceitual, traduzida claramente nas homenagens a Zenaide Bezerra e Dona Marivalda, mulheres negras que dedicaram a vida a um ofício apaixonado, no qual estão desde sempre. O frevo e o maracatu são, para elas, muito mais do que expressões culturais ou festa, são afirmações de luta, história, resistência e identidade, com a marca da paixão pela arte, a dança, a música, além de reconhecimento à ancestralidade. Assim nos encontramos com o Galo Ancestral”, pontua Mello.

Leopoldo Nóbrega, que assina a escultura, ressalta o empoderamento social presente na obra de arte. “Em reconhecimento à história e toda riqueza do legado afrodescendente para a formação multiétnica nacional, evocamos a nossa ancestralidade africana e brindamos um novo tempo colorido, de paz, igualdade, inclusão e valorização das diferenças como potência cultural e estímulo ao fortalecimento das identidades por meio do empoderamento social, das narrativas humanistas e práticas sustentáveis presentes na escultura gigante do Galo da Madrugada”.

Ao todo, são mais de 7 toneladas de insumos utilizados no Galo, incluindo – além da estrutura de ferro -, todos os revestimentos que sintonizam as tendências de moda e arte da obra. Toda a estrutura da alegoria é feita sob medida para ser encaixada no guindaste de 70 toneladas que garante a estabilidade do Galo na ponte. A alegoria, que chega a 28 metros de altura, também traz traços cubistas e angulosos inspirados em Picasso que, por sua vez, também se inspirou na arte africana no início do século passado, e terá 90% de materiais e resíduos recicláveis.

Assim como suas duas últimas edições, também assinadas por Leopoldo Nóbrega e a designer e arquiteta Germana Xavier, a sustentabilidade e upcycling são fundamentais no processo de confecção da obra de arte gigante. A indumentária vem de descartes de tecidos como malhas e jeans coletados em cidades como Caruaru, Toritama e Santa Cruz do Capibaribe e também de revestimentos de pisos em eventos.

“A gente vem com um galo pós-moderno, inclusivo e que dialoga com a redução de impactos ambientais”, ressalta Nóbrega, que manteve a cocriação da escultura gigante em parceria com mulheres artesãs de comunidades periféricas, como Bomba do Hemetério, Morro da Conceição, Santo Amaro e Ponto de Parada.

Fonte: PANROTAS