A comida em Berlim para muito além da batata e da salsicha

Às vezes, os algoritmos sabem como ser irônicos. Assim que aterrissei em Berlim, ainda no avião, fui conferir as redes sociais enquanto as pessoas se acotovelavam para formar uma fila no corredor. No Instagram, um meme pareceu quase uma provocação: um gato com lágrimas nos olhos comia o que parecia ser um Chester de um prato que continha ainda fatias de salame e uma triste batata assada. No texto: “Quando você experimenta comida alemã pela primeira vez”.

Não era a primeira vez que eu estava na Alemanha para comer, claro. Mas curioso que o intuito da viagem era justamente provar novos restaurantes de Berlim que estão ajudando a projetar a cozinha germânica no mundo. E mudar justamente essa ideia de comida insípida, limitada até, que muita gente relaciona com os pratos alemães: há muito mais além de batatas e salsichas na nova cozinha do país — e do que o gato do meme poderia supor.

É algo recente: Berlim se tornou uma efervescente capital gastronômica. São 21 restaurantes premiados pelo Guia Michelin, mais do que muitas das capitais europeias — como Madri, Milão ou Copenhague, por exemplo. Além disso, possui hoje uma diversidade de cozinhas que vão das raízes turcas (bem presentes na cidade, com muitos imigrantes e seus kebabs) até influências asiáticas e nórdicas. Quem limitava a capital alemã ao currywurst precisa mesmo voltar e conhecê-la mais a fundo; e com mais fome.

Um dos pioneiros desse novo movimento foi o chef Tim Raue, provavelmente o rosto mais midiático da gastronomia alemã hoje: além de programas na TV local, é um dos cozinheiros que mereceu um episódio da série Chef’s Table da Netflix só para si. Seu restaurante homônimo, aberto em sociedade com Marie-Anne Wild em 2010, se tornou um dos mais premiados da Alemanha e, com uma cozinha que busca acentos asiáticos em pratos cheios de sabor, provou que a cena gastronômica local podia ser mais divertida, colorida e diversa.

“Nós evoluímos muito: em restaurantes, produtos, vinhos. Antes, se eu te servisse um vinho tinto alemão, você me perguntaria se alguém tinha feito xixi dentro da taça”, brinca o chef, que tem outros projetos na Alemanha, além de coordenar todo o menu de uma frota de navios de uma companhia local. Para ele, toda a diversidade que sempre representou Berlim nem sempre era vista nas cozinhas da cidade. Agora, as coisas estão mudando.

Wasabi Kaisergranat, Tim Raue, Berlim, Alemanha
Lagosta com wasabi do restaurante Tim Raue. (Jörg Lehmann/Divulgação)

Aberto em 2015, outro restaurante que transformou o cenário da cidade foi o Nobelhart & Schmutzig, o alemão mais bem colocado na recente lista do The World’s 50 Best Restaurants e o que subiu mais alto na classificação em 2022. Não só por sua cozinha inovadoramente minimalista, com pratos que quase nunca levam mais de três ingredientes principais. Mas sobretudo por ter, desde o início, se posicionado politicamente por uma gastronomia “vocalmente local”, como eles definem, em que só servem ingredientes que venham da região metropolitana de Berlim.

Com essa missão, o proprietário Billy Wagner e o chef Micha Schäfer conseguiram comprovar que os produtos produzidos localmente podem ter a mesma qualidade do que é cultivado na França ou na Itália, por exemplo, para citar dois países com uma herança mais reconhecida pela relação com a terra e a qualidade do que se produz nela. E como isso pode ter reflexo, claro, em uma melhor qualidade da cozinha. 

Ingredientes simples, como aipos, rabanetes e abóboras têm grande valor nos pratos servidos no moderno restaurante que tem exposições de artistas passando em telas espalhadas pelos espaços e um balcão que percorre toda a cozinha, onde os clientes podem se sentar e ver toda a equipe trabalhando. Só não podem registrar nada — em tempos que as pessoas postam tudo em suas redes sociais, especialmente o que comem, Nobelhart & Schmutzig tem uma política de não permitir fotos, algo raro nos restaurantes que se promovem pela internet.

Mas em uma cidade com as características peculiares de Berlim, as mais excêntricas escolhas (quase) sempre são muito bem aceitas, e está tudo bem. Algo que se começa a ver também em uma gastronomia cada vez mais interessante e diversificada. E que finalmente faz jus ao caráter tão moderno e cosmopolita da capital alemã. 

Os restaurantes em Berlim que valem a viagem: 

Café Frieda

Lychener Straße 37

É um bistrô com foco no produto: tudo é fresco e bem feito no Café Frieda, a nova obsessão dos berlinenses. De saladas a pratos de peixe, de croissants crocantes a uma atrativa versão do crepe Suzette, o espaço tem clima de café e cardápio com qualidade de restaurante estrelado. 

Nobelhart & Schmutzig

Friedrichstraße 218

“O restaurante mais político da Alemanha”, como se define, mostra que aquilo que escolhemos comer é importante. Não espere por trufas, foie gras e outros ingredientes globais: aqui os produtos são locais e a comida não é servida à la carte; em vez disso, há um menu sazonal de dez pratos que muda diariamente. 

Tim Raue

Rudi-Dutschke-Straße 26

Ao lado do Museu Judaico, serve uma cozinha de inspiração asiática: técnicas japonesas, picância tailandesa e filosofia chinesa. O ambiente é alegre e colorido, para lembrar que comer também é divertido. Os pratos combinam acidez, doçura e picância nas mesmas medidas para instigar os paladares. 

Tulus Lotrek 

Fichtestraße 24

Em uma aconchegante casa de arquitetura germânica repleta de madeira e cadeiras cobertas por mantas de pele, o restaurante oferece conforto também nos pratos: das mollejas com creme de parmesão e trufas a um leve e delicioso consommé de carne servido com brioche. A seleção de vinhos também é caprichada. 

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Fonte: Viagem e Turismo