Belarus recebe críticas por desviar avião para prender jornalista

Apoiadores de Roman Protasevich no aeroporto de Vilnius, na Lituânia

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Apoiadores de Roman Protasevich no aeroporto de Vilnius, na Lituânia

Um avião que voava da Grécia para a Lituânia foi desviado para Belarus com o objetivo de prender um jornalista dissidente.

A rede de notícias Nexta disse que seu ex-editor, Roman Protasevich, foi detido quando o avião pousou em Minsk, capital de Belarus, neste domingo (23/5).

A mídia estatal do país localizado no Leste Europeu disse que o avião foi desviado por uma ameaça de bomba, mas nenhum explosivo foi encontrado.

Vários países europeus reagiram acusando Belarus de “terrorismo de Estado” e exigindo punição.

Figuras políticas de todo o continente apelaram à intervenção da União Europeia e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).

A líder da oposição do país, Svetlana Tikhanovskaya, que foi derrotada pelo presidente Alexander Lukashenko nas eleições do ano passado, juntou-se às vozes que pedem a libertação de Protasevich.

Desde a eleição de agosto do ano passado, Lukashenko, de 66 anos, que governa o país desde 1994, tem atacado as vozes críticas.

Muitas figuras da oposição foram presas ou forçadas ao exílio, como foi o caso da própria Tikhanovskaya.

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Sviatlana Tsikhanouskaya, o símbolo da oposição ao regime de Belarus

Como o avião foi desviado?

O voo FR4978 partiu de Atenas e estava a caminho da cidade de Vilnius, na Lituânia, neste domingo, quando virou para o leste em direção à capital de Belarus, logo após ultrapassar a fronteira.

Em um comunicado, a companhia aérea Ryanair, responsável pelo voo, disse que “o controle de tráfego aéreo de Belarus notificou a tripulação sobre uma potencial ameaça à segurança e deu instruções para se dirigir ao aeroporto mais próximo, localizado em Minsk”.

A rota aérea sugere que o avião estava realmente mais próximo de Vilnius do que de Minsk naquele momento.

A Ryanair disse que, após o pouso, nada foi encontrado e o avião recebeu permissão para continuar sua rota.

“A Ryanair notificou as agências de segurança nacionais e europeias e pedimos desculpas a todos os passageiros afetados por este atraso que esteve além do controle da empresa.”

A companhia aérea não mencionou Protasevich, cuja prisão foi relatada pela primeira vez pela Nexta.

O editor-chefe do canal de notícias, Tadeusz Giczan, compartilhou no Twitter uma frase de um passageiro do avião.

Segundo o relato, Protasevich lhe disse que seria “executado” assim que estivesse no solo de Minsk.

Belta, a agência de notícias estatal de Belarus, afirmou que o presidente Lukashenko deu pessoalmente a ordem para desviar o avião após a ameaça de bomba.

De acordo com as informações da Belta, um avião militar MiG-29 acompanhou o avião da Ryanair.

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A Ryanair disse que, após o pouso, nada foi encontrado e o avião recebeu permissão para continuar sua rota

Reações

A resposta de diversos líderes europeus foi rápida e deve aumentar nas próximas horas.

O presidente da Lituânia, Gitanas Nauseda, acusou Belarus de cometer um “ato horrendo”.

O ministro das Relações Exteriores da Letônia, Edgars Rinkevics, afirmou que a ação de Belarus foi “contrária ao direito internacional” e que a resposta deve ser “forte e eficaz”.

O primeiro-ministro polonês Mateusz Morawiecki disse: “O sequestro de um avião civil é um ato de terrorismo de Estado sem precedentes que deve ter consequências.”

O chefe da diplomacia da União Europeia, o espanhol Josep Borrell, disse que Belarus deveria ser responsável pela segurança de todos os passageiros do avião.

Análise de James Landale, correspondente diplomático da BBC

Ainda não sabemos todos os detalhes dessa história, mas suas implicações podem ser enormes.

Há dúvidas sobre a liberdade nos céus: quão vulneráveis ​​podem ser outros voos a esse tipo de comportamento? Alguns já chamam esse ato de agressão, terrorismo de Estado ou uma forma de sequestro. A segurança dos passageiros foi comprometida? Que precedente isso abre? Os voos devem evitar o espaço aéreo de Belarus?

Também existem questões sobre o direito internacional. Até que ponto essa atitude era ilegal, como muitos presumem? E, em caso afirmativo, quais consequências deveriam acontecer?

E também há questões de liberdade de opinião: os críticos de outros regimes espalhados pelo mundo temerão que o mesmo possa acontecer com eles?

E não dá pra ignorar as questões da diplomacia internacional. Figuras políticas em toda a Europa já pediram a intervenção da União Europeia e da OTAN e há apelos por mais sanções contra o governo de Belarus, cuja legitimidade está sendo questionada por muitos países ocidentais após as eleições do ano passado.

O presidente Lukashenko é definido como o último ditador da Europa. A palavra “pirata” será adicionada à sua lista de títulos?

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O presidente Alexander Lukashenko não nega seu status de autoritário

Quem é Protasevich e o que é Nexta

Nexta é um meio online com canais no Telegram, no Twitter e no YouTube.

O veículo desempenhou um papel relevante para a oposição do país durante as eleições e continuou com sua atuação depois do pleito.

A oposicionista Tikhanovskaya disse que Protasevich, que vive na Lituânia, deixou Belarus em 2019 e cobriu as eleições presidenciais de 2020 pelo Nexta, após uma série de acusações criminais que foram feitas contra ele.

A líder disse que Protasevich pode enfrentar a pena de morte em Belarus por ser considerado um “terrorista”.

Diversos líderes ocidentais apoiaram Tikhanovskaya, que conquistou a vitória nas eleições antes de ser forçada a deixar o país e se refugiar na Lituânia. Ela se candidatou depois que seu marido foi preso e politicamente desqualificado.

Dezenas de milhares de manifestantes foram às ruas de Minsk em várias ocasiões no ano passado, furiosos porque Lukashenko se declarou o vencedor.

Inúmeros casos de brutalidade policial foram relatados e mais de 2,7 mil acusações acabaram registradas somente neste ano.

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Fonte: BBC