Desemprego e falta de creche: mães lutam para retornar ao mercado de trabalho

Cerca de 60% dos desempregados atuais nos EUA são mulheres, aponta o Departamento de Trabalho.

O desemprego e falta de creche têm afetado o retorno de mulheres que são mães ao mercado de trabalho. A economia dos EUA perdeu 20,5 milhões de empregos em abril, informou a Secretaria de Estatísticas Trabalhistas. De acordo com uma análise realizada pelo Institute for Women’s Policy Research, cerca de 60% dessas perdas foram experimentadas por mulheres.

Cerca de 51,7 milhões de americanos que vivem em domicílios com crianças com menos de 18 anos dizem que eles ou alguém em sua casa tiveram uma perda de renda no emprego desde março, quando foi declarada oficialmente a pandemia nos EUA, de acordo com o último censo.

Além disso, mulheres hispânicas, imigrantes, jovens adultos e pessoas com menos escolaridade são as mais afetadas pelas perdas de empregos na atual situação, concluiu o Pew Research Center. 

“Shecession”

Os dados de desemprego de abril levaram o The New York Times a se referir recentemente à crise econômica como uma “Shecession”. Cerca de 60% dos 20,5 milhões de empregos eliminados pertenciam a mulheres. Isso resultou em uma taxa de desemprego recorde de 14,7%, mas a taxa de desemprego feminino subiu para 15,5%.

EUA podem perder até 4,5 milhões de vagas de creche

Diane Swonk, economista-chefe da Grant Thornton, a sexta maior organização de consultoria e contabilidade dos EUA, disse recentemente à CNBC que mulheres em todo o país estão enfrentando uma grande barreira à reentrada no local de trabalho pela falta de escolas e creches para deixar os filhos.

O Center for American Progress estima que, devido à pandemia de coronavírus, os EUA possam perder até 4,5 milhões de vagas de creche se os prestadores deste tipo de serviço não conseguirem resistir ao fechamento.

“Essa é uma das questões mais importantes por aí”, disse Swonk. “Se não podemos reabrir as escolas e não tem programas de verão, há muitos trabalhadores que não têm escolha. Eles não podem voltar à força de trabalho”, completou.

“Eu vejo as lutas pelas quais os pais estão passando e é loucura. Encontrar atendimento em um mundo socialmente distante é ainda mais difícil”, diz ela, observando que muitos prestadores de cuidados infantis fecharam as portas ou abrem com capacidade limitada, e, para muitos pais, é ainda mais difícil do que o habitual, porque muitos deles também não conseguem confiar em avós ou outro familiar para cuidar das crianças.

Munira Ragú mora em Newark (NJ) com os 4 filhos e teve que sair do trabalho. Foto: arquivo pessoal.

Sem creche e aulas online = filhos em casa

Caixa de supermercado, a brasileira Munira Ragú que mora em Newark (NJ), conta que teve que parar de trabalhar para poder ajudar os filhos com as aulas e tomar conta do mais novo.

“A escola do meu filho mais novo está fechada e as mais velhas estavam com aulas online. Na verdade, fiquei impossibilitada de continuar a trabalhar por isso. Sem dúvida que nesta altura as mulheres com filhos têm mais dificuldade. A diferença salarial entre mulheres e homens também contribui para este fator”, destaca.

O vereador Vance Aloupis, que é o diretor executivo do Movimento Infantil da Flórida, uma organização sem fins lucrativos com sede em Miami, concorda com Swonk. Ele disse que cerca de 70% das creches estão fechadas, e uma pesquisa recente mostrou que muitos dos centros não sobreviverão. Ou seja, não voltarão à ativa.

Trabalho doméstico x homeoffice

Em casa, as mulheres que ainda estão empregadas enfrentam desafios. Elas carregam mais peso quando se trata de cuidar de crianças e educar em casa durante a pandemia, de acordo com um relatório recente do Boston Consulting Group. Pouco mais de um terço dos pais dizem que as mulheres são as principais cuidadoras, enquanto apenas 14% concordam que são homens. De fato, as mulheres gastam em média 15 horas a mais por semana do que os homens em trabalho doméstico durante a pandemia.

É o caso da brasileira Aline Silva Mattoso, que mora em West New York (NJ) e se desdobra com o trabalho homeoffice como gerente da corretora EFG Hermes enquanto cuida da casa e dos dois filhos de 6 e 10 anos de idade.

“A maior dificuldade é conseguir lidar com todas as atividades das crianças, lhes dar atenção, conseguir conciliar o trabalho e ainda me exercitar, cozinhar para eles, limpar a casa”, conta Mattoso, que se separou recentemente do pai das crianças.

“Vejo que pra ele nada mudou. Ele vai trabalhar todos os dias e não tomou nenhuma responsabilidade. Meu salário continua os mesmo, graças a Deus, e minha responsabilidade no trabalho também. Mas como posso trabalhar de casa, eu posso acordar às 4:30 da manhã e trabalhar até as crianças acordarem, por exemplo. O lado bom é que eu tenho flexibilidade e consigo ficar mais tempo ao lado dos meus filhos”, salienta.

Com a garantia de estar em casa até setembro, pelo menos, ela pretende retornar ao trabalho no escritório somente quando estiver mais tranquilo. “Eles falaram que até setembro ficaremos em casa. Não vou voltar até as coisas se estabilizarem e meu chefe vai deixar eu ficar até às coisas voltarem ao normal”, explica.

Para Ellen Ernst Kossek, professora de Administração da Universidade Purdue, no estado de Indiana, e especialista e autora em igualdade no local de trabalho, igualdade de gênero e equilíbrio entre vida profissional e pessoal, “as mulheres usam mais ​​da flexibilidade no local de trabalho, em parte porque ainda cobrem mais demandas familiares. Se as empresas não adaptarem suas culturas à medida que reabrimos da pandemia, isso também poderá impedir as mulheres de retornarem à vida profissional”, afirmou.

“Acho que mais do que tudo, a pandemia apenas exacerbou e lançou outra luz sobre os desafios que as mulheres enfrentam, as desigualdades”, diz Evelyn Zohlen, uma planejadora financeira certificada e fundadora da Inspired Financial, com sede na Califórnia.

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Fonte: Gazeta News