Eleições nos EUA 2020: O que há de verdadeiro ou falso em 8 acusações de Trump sobre fraude na apuração dos votos

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Trump não apresentou provas ou indícios para embasar suas acusações de fraude

O presidente Donald Trump fez um pronunciamento na manhã da sexta-feira (06/11) sobre a apuração dos votos para a eleição presidencial ocorrida três dias antes, com uma série de acusações de fraude para as quais não apresentou indícios ou provas.

A BBC News analisou cada uma das afirmações de Trump e te diz aqui o que elas têm de verdadeiro ou falso.

1. Trump: “Venho falando sobre os votos pelo correio há muito tempo. Isso realmente destruiu nosso sistema. É um sistema corrupto e torna as pessoas corruptas”.

O presidente americano já fez mais de 70 postagens no Twitter colocando em dúvida os votos pelo correio, citando “fraude eleitoral” ou eleições “roubadas” desde abril.

Mas não há nenhuma evidência de que o sistema seja fraudulento.

Fraudes eleitorais são raras nos Estados Unidos – a proporção é de menos de 0,0009% dos votos, segundo um estudo de 2017 da organização Brennan Center for Justice. Não há evidências também que sugiram que este seja um problema maior nesta eleição.

O próprio presidente já votou pelo correio no passado. Ele vivia fora do Estado da Flórida, onde tinha o registro eleitoral, e solicitou um voto pelo correio.

Esse sistema é conhecido como cédula para ausente, a qual Trump disse ser favorável por acreditar que inclui garantias de segurança maiores.

Mas ele fez uma distinção com relação a outras formas de votos pelo correio, como quando os Estados enviam cédulas automaticamente para todos os eleitores registrados poderem votar pelo correio se quiserem.

Os Estados de Oregon e Utah já fizeram isso com sucesso em eleições passadas.

2. Trump: “Eles enviaram pelo correio dezenas de milhões de cédulas não solicitadas sem qualquer medida de verificação”.

Os eleitores registrados em nove Estados (e mais a capital, Washington), receberam automaticamente cédulas para voto pelo correio sem ter que solicitá-las. Cinco desses Estados introduziram essa medida por causa da pandemia de coronavírus.

Mas oito desses nove Estados – Colorado, Havaí, Oregon, Utah, Washington, Califórnia, Nova Jersey e Vermont – não estão em discussão após a eleição.

Todas as formas de votação pelo correio têm medidas de segurança – como a checagem de que as cédulas vieram do endereço registrado do eleitor e a exigência de assinaturas nos envelopes.

A votação pelo correio nos Estados Unidos não é algo novo – o sistema já vem sendo usado há muitas eleições.

3. Trump: “É impressionante como essas cédulas pelo correio também são tão unilaterais.”

O presidente Trump criticou repetidamente os planos de expandir o voto por correspondência, dizendo – sem evidências reais – que estava sujeito a “fraudes tremendas”.

Ele pediu aos eleitores republicanos que comparecessem no dia, em vez de usar as cédulas pelo correio.

Há evidências na contagem de votos de que foi isso que aconteceu: os eleitores democratas estiveram mais propensos a votar pelo correio, enquanto republicanos preferiram votar pessoalmente no dia.

A contagem não terminou, mas na Pensilvânia a estimativa é de que, de mais de 2,5 milhões de votos por correspondência recebidos, houve quase três vezes mais votos de democratas do que de republicanos.

Isso não é verdade.

O cano estourou na State Farm Arena e afetou uma sala onde os votos de ausentes estavam sendo tabulados.

A equipe divulgou um comunicado à imprensa, no qual informa que nenhuma cédula foi danificada e nenhum equipamento foi afetado. “Houve um breve atraso na tabulação das cédulas de ausentes enquanto os reparos estavam sendo conduzidos”, diz a nota.

5. Trump: “Existem agora apenas alguns estados a serem definidos na corrida presidencial. O aparelho de votação desses estados é dirigido em todos os casos por democratas.”

Não é verdade que “em todos os casos” os estados sejam governados por democratas.

Na Geórgia, que ainda não teve definição, o governador e as duas casas legislativas são controlados por republicanos.

O secretário de Estado, encarregado da administração da eleição, é Brad Raffensperger, que é republicano.

Abaixo, uma mensagem de Trump no Twitter, publicada em 2018, na qual ele elogia Raffensperger. O presidente dos EUA diz que “Brad Raffensperger será um fantástico Secretário de Estado da Geórgia”.

Para dar outro exemplo, Nevada, que também segue sem um resultado final, tem um secretário de estado republicano supervisionando sua eleição.

6. Trump: “Eles não permitiriam observadores legalmente previstos”.

Nesse ponto, o presidente Trump fala sobre observadores de eleições. São pessoas dentro dos locais de voto que observam a apuração, com o objetivo de garantir a transparência.

Eles são permitidos na maioria dos estados, mas devem ser registrados antes do dia das eleições, geralmente filiados a um partido ou candidato, embora as regras variem de estado para estado.

O presidente Trump questionou a percepção da falta de acesso dos observadores republicanos em certas cidades administradas por democratas, como Filadélfia e Detroit.

Mas a verdade é que os observadores das pesquisas foram autorizados a observar a contagem em ambas as cidades.

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Um observador de eleição acompanhando a contagem na Filadélfia

O número de observadores eleitorais permitidos em um local de contagem de votos varia dependendo de seu tamanho. Esses limites são estabelecidos antes do dia das eleições.

Em algumas áreas, os números foram restritos, em parte para limitar a quantidade de pessoas devido ao coronavírus. Também existem limites definidos para evitar intimidação.

Em Detroit, mais de 130 observadores que representam tanto os democratas quanto os republicanos tiveram permissão para entrar no local.

A secretária municipal, Janice Winfrey, disse que não tinha informações sobre remoção de observadores republicanos.

Na Filadélfia, um vídeo viral mostra um observador eleitoral certificado sendo recusado em uma seção eleitoral, mas, como relatamos, isso ocorreu devido à confusão sobre as regras e ele foi posteriormente autorizado a entrar.

A secretária de Estado da Pensilvânia, Kathy Boockvar, disse: “Cada candidato e cada partido político pode ter um representante autorizado na sala para observar o processo. Algumas jurisdições, incluindo Filadélfia, também estão transmitindo ao vivo, então você pode literalmente assistir ao processo de contagem.”

O presidente Trump está sugerindo que contar os votos por correspondência que chegam após o dia das eleições é “ilegal”. Mas a verdade é que as cédulas atrasadas podem ser contadas em cerca de metade dos Estados dos EUA – desde que tenham o carimbo do correio até 3 de novembro.

Isso inclui os Estados da Pensilvânia, Nevada e Carolina do Norte, onde um vencedor ainda não havia sido definido. Os prazos para a chegada de uma cédula postal variam de Estado para Estado.

Outros Estados, como Geórgia e Arizona, não contam os votos por correspondência que chegam após o dia das eleições.

Em seu discurso, o presidente Trump disse na Pensilvânia que as cédulas atrasadas estavam sendo contadas “sem mesmo carimbo do correio ou qualquer identificação”.

A Suprema Corte do Estado decidiu que as cédulas atrasadas com carimbos ausentes ou ilegíveis seriam contadas, a menos que evidências suficientes “demonstrem que foram enviadas após o dia das eleições”.

Cada cédula postal passa por várias etapas para ser verificada, como uma assinatura e verificação de endereço.

Trump está se referindo ao Centro TFC em Detroit, Michigan. Na quarta-feira (04/11), houve cenas caóticas quando os observadores eleitorais alegaram que estavam sendo bloqueados no salão de apuração porque as janelas estavam cobertas.

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Janelas no TFC Center, em Detroit, sendo fechadas

O procurador da cidade de Detroit, Lawrence Garcia, disse em um comunicado: “Algumas – mas não todas – as janelas estavam cobertas, porque os eleitores sentados perto dessas janelas expressaram preocupação com as pessoas fora do centro fotografando e filmando-as e a seu trabalho.”

Na verdade, havia centenas de observadores eleitorais – de ambos os partidos – dentro do local de contagem. As autoridades impediram a entrada de mais observadores eleitorais porque já havia chegado ao limite da capacidade.

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Fonte: BBC