Mais ativas no mercado de trabalho, mulheres contam os desafios de ocupar funções “masculinas”

As mulheres são agora a maioria da força de trabalho dos Estados Unidos, de acordo com o Bureau of Labor Statistics,- mas ainda enfrentam sérios desafios que incluem a dupla jornada no trabalho e em casa, o preconceito em profissões\funções tidas ainda como “masculinas” e a diferença salarial ocupando as mesmas posições que os homens.

A estimativa atual para a população da Flórida em 2020 é de 21,99 milhões, com uma diferença de gênero em 51,1% do sexo feminino e 48,9% do sexo masculino, segundo United States Census Bureau. Seguindo essa tendência, a comunidade brasileira é dividida entre cerca de 55% de mulheres e 44% de homens, tendo como estimativa dados do censo americano referente ao ano de 2017.

Mesmo com os avanços, as mulheres têm muito mais probabilidade de trabalhar em meio período e em empregos com remuneração mais baixa. Isso porque muitas são forçadas a escolher um trabalho mais flexível, que pode ser em part-time e mais perto de casa, porque elas precisam ou se espera que cuidem de suas famílias. Em parte, isso pode ser devido ao alto custo da assistência à infância. Mais de 70% das famílias gastam mais de 10% de sua renda em cuidados, de acordo com a análise do Care.com.

Mulheres na força de trabalho

As mulheres detêm a maioria dos empregos pela primeira vez em quase uma década nos EUA. Em dezembro de 2019, 50,04% dos empregos americanos estavam ocupados por mulheres , excluindo trabalhadores agrícolas e trabalhadores independentes, de acordo com o Bureau of Labor Statistics. A porcentagem é superior a de 49,7% há apenas um ano.

Indo na contramão do país, de acordo com o Institute for Women’s Policy Research, a Flórida tem uma das menores participações de mulheres na força de trabalho dos EUA – 53,7%, colocando o estado no ranking de 48º. Existe uma grande variação nas taxas de participação da força de trabalho feminina na Flórida, variando de de 24,6% no Condado de Sumter para uma alta de 62,9% no Condado de Orange, aponta o instituto.

Flórida entre os estados com menor participação feminina

A participação da força de trabalho para as mulheres da Flórida está entre as mais baixas do país, com taxas variando amplamente por município e raça / etnia. Em 2018, o estado ocupava a 38ª posição no país com salário médio anual para mulheres que trabalham em período integral o ano todo (US $ 35.000), com os ganhos femininos variando consideravelmente de acordo com a raça e a etnia, segundo o Institute for Women’s Policy Research e o Florida Philanthropic Network.

Os órgãos apontam ainda que se as mulheres recebessem o mesmo valor que os homens na mesma posição, o salário médio delas aumentaria em US $ 6.300, um ganho de mais de 16%.

Além disso, o alto número de mulheres na força de trabalho oculta os fatos de que a taxa de participação da força de trabalho para muitos grupos de mulheres ainda é menor que a dos homens. Por exemplo, a taxa de participação da força de trabalho civil para trabalhadores da primeira idade (de 25 a 54 anos) foi de 76,8% para as mulheres em dezembro de 2019, em comparação com 89,2% para os homens, segundo BLS.

Diferença salarial

Em 2018, as mulheres da Flórida que trabalhavam período integral em regime de salário tinham um salário médio semanal de US $ 716, ou 82,6% dos ganhos semanais médios de US $ 867 de seus colegas homens, informou o Bureau of Labor Statistics dos EUA.

A comissária regional Janet S. Rankin observou que a taxa de ganhos de mulheres para homens em 2018 na Flórida diminuiu em relação a 2017, queda de 5,3 pontos percentuais. Em todo o país, as mulheres ganhavam US $ 789 por semana, ou 81,1% da média de US $ 973 para os homens.

As estatísticas federais do trabalho confirmam que as mulheres ganham menos que os homens na força de trabalho privada; cerca de 83 centavos de dólar na Flórida e cerca de 81 centavos de dólar em todo o país.

“Temos um estigma cultural em torno de discutir nossos salários e muitas mulheres podem nem saber que estão sendo severamente mal remuneradas em comparação com seus colegas do sexo masculino”, disse a representante do estado da Flórida Anna Eskamani, que acrescentou ainda que o governo deve considerar punir empresas que pagam menos às mulheres pelo mesmo empregos. “Portanto, se uma empresa está pagando um gênero a mais que outro, pode haver um caminho real para penalizar essa empresa”, disse em entrevista ao canal Fox13 de Tampa Bay.

Ocupando funções de predomínio masculino

Cada vez mais mulheres estão ingressando em setores antes dominados por homens. O contrário também vem acontecendo – homens já exercem funções e profissões que antes eram dominadas por mulheres, como maquiadores e profissionais da beleza, por exemplo – mas ainda em menor proporção.

Cecília Weissberg já teve a experiência de trabalhar como caminhoneira rodando boa parte dos Estados Unidos. Foto: arquivo pessoal.

Caminhoneira

Para a radialista Cecília Weissberg, que já teve a experiência de trabalhar como caminhoneira rodando boa parte dos Estados Unidos, fazer algo que não é comum sempre chama atenção, ainda mais quando já se tem uma profissão e de repente larga tudo para dirigir caminhão – um trabalho ainda predominantemente masculino.

“As pessoas olhavam e achavam estranho como eu, mulher, que já tinha uma profissão, parei tudo para virar caminhoneira. Mas foi uma experiência muito interessante. Pude vivenciar o dia a dia deles (caminhoneiros) e ver que a infraestrutura nos EUA é excelente!”, conta.

Como o marido já era caminhoneiro e queria muito que ela dirigisse com ele, Cecília decidiu tirar carteira para conduzir caminhão e cair na estrada também. “Por uns oito meses, conheci de perto a realidade dos caminhoneiros e melhor, de uma mulher em um posto dominado por homens”, relata.

Fazendo entregas de cargas para a Fedex, Cecília conta que ela e o marido se revezavam no volante e ficavam semanas direto na estrada. “Eu dirigia de dia e ele à noite. Quando entregávamos toda carga, era o momento de aproveitar para fazer manutenção no caminhão ou voltar para casa”, relata.

No primeiro dia fiquei dura, tensa, não me mexia ao volante. Achava que na faixa não caberia um caminhão tão grande, mas depois fui relaxando. Nunca tinha dirigido na neve, tampouco um caminhão. Não enxergava quase nada e os outros carros me seguindo. Hoje olho pra trás e nem sei como que fiz aquilo tudo. Não tinha treinamento, era na raça”, detalha.

Como as estradas nos EUA são grandes, melhores e mais calmas em comparação com o Brasil, segundo Cecília, durante as viagens ela aproveitava para ouvir música e palestras. “As estradas são longas e em alguns trechos, como no Texas, chegam a ser desertas”, salienta.

Em um mundo no qual mulheres estão exercendo profissões antes dominadas somente por homens, a jornalista entende que as mulheres não têm que fazer tudo o que os homens fazem, mas têm sim capacidade para realizar muitas coisas, apesar do limite físico. “Depende da necessidade, a mulher é muito mais multifuncional que os homens, tem o ‘software’ mais completo, digamos. Mas acho que mulher não tem que ser nem mais nem menos que os homens. É importante as mulheres fazerem coisas para mostrar a capacidade e isso, com certeza, vai abrindo um campo muito maior, inclusive de trabalho”.

Ajudante de pedreiro

Por problemas pessoais, Cyntia Oliveira precisou deixar para trás uma construtora na Paraíba, na qual era proprietária, e veio para a Flórida, onde começou trabalhando como ajudante de pedreiro. “Como conhecia um pouco de construção, não hesitei na oportunidade em trabalhar nesse ramo aqui na América. No início foi duro, trabalhava limpando e retirando entulho das obras. Senti muito preconceito quando passei a por a mão na massa, literalmente. Mas homens na construção são durões, mas são paternais também. Tive a sorte de achar boa gente pela vida de pedreira. Com o tempo, ele viram meu esforço em aprender e passaram a me dar crédito”, conta.

Oliveira diz que ainda tem muito preconceito na área de construção civil, mas que é preciso passar por eles para sobreviver. “Não tive como fazer outra coisa da vida, pois era um dinheiro que me ajudava a ganhar o que eu não ganhava como advogada no Brasil. Aprendi tudo na área da construção por uma questão de sobrevivência e hoje faço de tudo, do piso à retirada de ‘popcorn’ do teto. Do tile, ao stucco, passo plaster, pinto, além de saber como funciona instalação de drywall e finalização”, detalha.

Para continuar na área, mas não ter que pegar tanto no pesado, Oliveira conta que está fazendo cursos de especialização para se tornar coaching. “Hoje me considero feliz porque é algo que posso fazer com prazer, apesar de ser fisicamente puxado”, finaliza.

Cynthia Kuroswski trabalhou com diversos tipos de trabalhos pesados. Foto: arquivo pessoal.

Uma “faz-tudo”

Atualmente numa realidade bem diferente da que passou há alguns anos e comandando uma loja de carros e uma empresa de limpeza comercial no sul da Flórida, por cinco anos Cynthia Kuroswski trabalhou em funções predominantemente masculinas.

“Na época, eu tinha saído da casa da minha mãe em Miami e como não estava legalizada e nem tinha experiência, fui trabalhar em construção, encanamento, pintura, limpeza. Todos trabalhos pesados e às vezes ganhava $5 a hora. Eu fazia mais que muito homem, carreguei muito saco pesado em construção, dormi no chão de warehouse, em cima de máquina de lavar. Doente ou não tinha que trabalhar”, relata Cynthia que entende que depende de cada mulher escolher esse tipo de trabalho pesado. “Não é por ser mulher, mas por necessidade”.

Apesar dos avanços gerais na igualdade de gênero, algumas áreas, como construção civil, permanecem amplamente dominados por homens. De acordo com o Bureau of Labor Statistics dos EUA, nacionalmente, as mulheres representavam, em 2018, 47% do emprego total no país, no entanto, representavam apenas 9% da indústria da construção – um número que permaneceu praticamente o mesmo no último quarto de século. Ou seja, desafiar o ‘status quo’ não é fácil e não acontece da noite para o dia.

Tempo maior para ser promovida no emprego

No setor privado, as chances de promoção para os homens são cerca de uma vez e meia mais altas do que para as mulheres. Usando dados de 2018 da Equal Employment Opportunity Commission (EEOC) divulgados pelo Yahoo Finance sobre o número de funcionários e gerentes e o total de trabalhadores de colarinho branco, descobrimos que as chances de promoção para os homens são de cerca de 28% em comparação com 18% para as mulheres.

As mulheres são promovidas a taxas mais altas que os homens em menos de 10% das indústrias. Das 55 indústrias com mais de 200.000 funcionários informados à EEOC, há apenas cinco em que as chances de promoção para uma mulher são maiores do que para um homem. Eles incluem revendedores de veículos e peças; transporte aéreo; radiodifusão (exceto internet); artes cênicas, esportes para espectadores e indústrias relacionadas; e correios e mensageiros.

Representação no mercado privado

Nos últimos 20 anos, o emprego das mulheres no setor privado manteve-se estável, aumentando em cerca de 1%, de 47,2% em 1999 para 48,2% em 2018. Embora a representação das mulheres como oficiais e gestoras tenha crescido quase 6% em relação ao mesmo período período, as mulheres ainda representam menos de 39% de todos os funcionários e gerentes atualmente, de acordo com a EEOC.

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Fonte: Gazeta News