Paraguai: perfil da nação marcada por uma guerra e crises políticas

O Paraguai, um dos vizinhos do Brasil no Cone Sul, é um país sem acesso ao mar, cercado por Brasil, Bolívia e Argentina. Essa realidade geográfica acabou levando a choques de interesses com países vizinhos no século 19 e à chamada Guerra do Paraguai, em que o Paraguai foi derrotado pela aliança composta por Brasil, Argentina e Uruguai. O conflito definiu em grande medida o futuro do país.

Desde que o Paraguai emergiu de 35 anos da ditadura do general Alfredo Stroessner, em 1989, crises políticas, corrupção e problemas econômicos marcaram sua frágil democracia.

Cerca de um quarto dos paraguaios vive abaixo da linha de pobreza nacional, o que faz com que o país tenha grandes desafios sociais, entre eles moradia – quase a metade dos paraguaios vive em moradias inadequadas.

Grande parte das terras no Paraguai pertence a um pequeno número de indivíduos, e sucessivos governos têm sido lentos em implementar uma reforma agrária.

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A cidade de Assunção é o centro político e econômico do Paraguai, país ainda com muitos problemas sociais

A economia é dependente da agricultura e da energia hidrelétrica. Diferentemente de seus vizinhos, o Paraguai não conta com uma significativa indústria turística, mas antigas construções de missões jesuítas atraem visitantes interessados na história da região. Ao lado de Brasil, Argentina e Uruguai, o país é sócio fundador do Mercosul, o bloco econômico da região.

A maioria da população é de ascendência mestiça, misturando origem espanhola e guarani, e fala tanto o espanhol como o guarani.

A região da Tríplice Fronteira, onde o Paraguai encontra-se com a Argentina e o Brasil, tem uma longa história de tráfico de drogas e contrabando.

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República do Paraguai

Capital: Assunção

  • População7 milhões

  • Área406.752 quilômetros quadrados

  • Principais línguasEspanhol e guarani

  • Principal religiãoCristianismo

  • Expectativa de vida71 anos (homem), 75 anos (mulher)

  • MoedaGuarani

Fonte: ONU, Banco Mundial

Presidente: Mario Abdo Benítez

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O presidente Mario Abdo Benítez é mais um governante do Partido Colorado, que domina a política paraguaia há décadas

O ex-senador Mario Abdo Benítez, do Partido Colorado, assumiu a Presidência do Paraguai em agosto de 2018. Sua apertada vitória nas eleições ocorreu três meses antes, ajudada por sua promessa de manter as políticas de impostos baixos para atrair mais investimento estrangeiro.

O resultado significou a manutenção no poder do Partido Colorado, que tem dominado a política paraguaia há décadas. Benítez é filho de um assessor do então ditador militar Alfredo Stroessner – e a defesa que o presidente fez do legado de Stroessner foi alvo de críticas.

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A mídia paraguaia é marcada pela concentração de propriedade de veículos nas mão de grandes grupos

A mídia no Paraguai é composta tanto de veículos estatais como de empresas privadas. O rádio é um meio chave para a população. Grande grupos empresariais dominam o setor – segundo a entidade Repórteres Sem Fronteiras, a propriedade está concentrada nas mãos de poucos. Entre os principais jornais do país, estão ABC Color e La Nación.

A Constituição paraguaia garante o funcionamento de uma imprensa livre, e a mídia opera com poucas limitações impostas pelas autoridades. Segundo a entidade Freedom House, a fronteira entre o Paraguai, Brasil e Argentina é particularmente perigosa para repórteres tentando cobrir assuntos envolvendo crime e corrupção.

Em dezembro de 2018, segundo o InternetWorldStats.com, havia mais de 6,2 milhões de usuários de internet no Paraguai – quase 90% da população. O Facebook é a rede social mais usada no país.

RELAÇÕES COM O BRASIL

Os vizinhos Brasil e Paraguai, que compartilham uma fronteira de 1.339 quilômetros e são sócios fundadores do Mercosul, estabeleceram relações diplomáticas em 1844. Entretanto, 20 anos depois começaria o conflito que ficaria conhecido no Brasil como a Guerra do Paraguai. Maior guerra já ocorrida na América do Sul e a mais marcante da história brasileira, ela opôs os dois países entre 1864 e 1870.

Sob o comando de Francisco Soláno Lopez desde 1862, o Paraguai buscava mais influência regional, particularmente com uma saída para o mar. Para isso, tinha uma aliança com o então governo uruguaio, dos “blancos”, que travava uma disputa interna com os “colorados”.

Os interesses brasileiros estavam alinhados com os colorados, e Brasil interveio militarmente na disputa uruguaia ao lado do grupo. O Paraguai respondeu, iniciando a guerra, com o país de Soláno Lopez de um lado e do outro a chamada Tríplice Aliança – Brasil, Argentina e o Uruguai, agora sob o comando dos colorados.

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A construção da hidrelétrica de Itaipu, nos anos 1970 e 1980, aproximou ainda mais Brasil e Paraguai

Após seis anos de conflito, em que entre 100 mil e 300 mil pessoas foram mortas, o Paraguai estava derrotado e destruído, com sua economia em ruínas. No Brasil, o Exército saiu fortalecido e ganhou prestígio, o que levaria à proclamação da República em 1889 – um golpe militar contra o imperador Dom Pedro II.

Em 1965, foi inaugurada a Ponte da Amizade entre Brasil e Paraguai, obra que deu ao Paraguai um caminho rodoviário levando diretamente ao Oceano Atlântico, facilitando suas exportações.

A construção conjunta da usina hidrelétrica de Itaipu – a Itaipu Binacional -, concluída em 1984, aproximou Brasil e Paraguai ainda mais e tornou-se um símbolo das relações entre os dois países. A usina é responsável por gerar cerca de 86% da energia consumida no Paraguai – no caso do Brasil, a fatia é de 15%.

Apesar de consumir menos de 20% da energia gerada por Itaipu, o Paraguai é muito dependente da hidrelétrica.

Uma negociação acerca do valor a ser pago por cada país por kilowat consumido quase gerou, em 2019, o impeachment do presidente Abdo Benítez. Os termos do acordo negociados pelo governo paraguaio foram considerados desvantajosos por acarretarem aumento das tarifas de energia pagas pela população. O acordo acabou renegociado o que garantiu a manutenção de Benítez no poder.

Enquanto a energia gerada pela usina respondeu por 14,6% do mercado brasileiro em 2018, 90,7% da demanda paraguaia por energia é atendida por Itaipu.

Se os conflitos entre as nações da região ficaram no passado, a fronteira entre Brasil e Paraguai passou a ser marcada pela ação de grupos criminosos, com intenso tráfico de armas e drogas. O problema agravou-se no século 21 e preocupa as autoridades dos dois países.

O Brasil autorizou o exílio em seu território do ex-ditador paraguaio Alfredo Stroessner, que morreu no país, e permitiu a permanência do ex-general Lino Oviedo, que fugia da Justiça paraguaia.

LINHA DO TEMPO

Importantes datas na história do Paraguai:

Século 16 – Futuro território paraguaio é originalmente ocupado pelo povo indígena guarani, antes da chegada dos primeiros colonos espanhóis.

1811 – O Paraguai declara a independência da Espanha e torna-se uma república.

1862 – Francisco Solano López assume a Presidência do Paraguai e busca mais influência regional para seu país.

1865-70 – Guerra do Paraguai – também conhecida como Guerra da Tríplice Aliança. O conflito opõe o país contra Brasil, Argentina e Uruguai. O Paraguai sai derrotado, com Solano López morto em combate, e perde dois terços de sua população masculina, além de parte de seu território. O governo começa a vender terras para pagar a dívida de guerra, o que leva grande parte do território nacional a pertencer a uma pequena elite.

1932-35 – Depois de décadas de estagnação econômica, o Paraguai obtém territórios da Bolívia na Guerra do Chaco.

1947 – Depois de uma breve guerra civil, o Partido Colorado-Republicano Nacional, de direita, governa o Paraguai como um regime de partido único e domina a política nacional pelos próximos 60 anos.

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O general Alfredo Stroessner governou o Paraguai por 35 anos e morreu exilado no Brasil

1954 – O chefe do Exército Alfredo Stroessner toma o poder num golpe militar – e governaria o país por 35 anos.

1984 – Inaugurada a usina hidrelétrica binacional de Itaipu, grande projeto realizado em parceria com o Brasil.

1989 – Alfredo Stroessner é derrubado pelo general Andrés Rodriguez, com apoio do general Lino Oviedo. Stroessner recebe asilo político no Brasil – onde morreria em 2006, aos 93 anos.

1992 – Uma nova Constituição abre caminho para eleições livres.

1996 – Tentativa de golpe, liderado pelo general Lino Oviedo, fracassa.

1998 – Raúl Cubas, do Partido Colorado, vence a disputa presidencial em meio a acusações de fraude eleitoral.

1999 – Protestos de rua violentos após o assassinato do vice-presidente Luis Maria Argaña, e o presidente Cubas renuncia. Acusado de manter matar Argaña, Oviedo foge do Paraguai e vai para a Argentina.

2000 – Uma nova tentativa de golpe militar fracassa, e o governo responsabiliza “forças antidemocráticas” que apoiavam o ex-general Oviedo, na época exilado no Brasil.

2004 – Ex-general Oviedo retorna do Brasil e é preso.

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O ex-general Oviedo, figura polêmica na política paraguaia, foi preso após voltar de anos exilado no Brasil

2008 – Um período de seis décadas do Partido Colorado no poder chega ao fim quando o ex-bispo católico Fernando Lugo é eleito presidente.

2013 – Candidato à Presidência, Lino Oviedo morre em queda de helicóptero durante sua campanha. O Partido Colorado retorna ao poder com a vitória do novato Horacio Cartes na eleição presidencial.

2017 – O presidente Cartes desiste de tentar buscar o direito de disputar a reeleição, depois que sua proposta de alterar a Constituição provoca protestos violentos.

2018 – O Paraguai segue os Estados Unidos e abre sua embaixada em Israel na cidade de Jerusalém – o terceiro país a tomar a polêmica medida, depois de EUA e Guatemala.

Fonte: BBC