Existe uma conexão entre imigrantes indocumentados e crimes?

Existe uma conexão entre imigrantes indocumentados e crimes?

É uma percepção amplamente aceita, mas uma nova análise, levantada por uma agência sem fins lucrativos, não encontra evidências para apoiá-la.

Muitas pesquisas mostraram que não há conexão efetiva entre a imigração e o crime nos Estados Unidos. Mas depois que um desses estudos foi publicado em conjunto pelo The Marshall Project, uma agência de jornalismo que investiga questões de justiça crimina, e The Upshot, do The New York Times, no ano passado, os leitores tiveram uma queixa principal: muitos argumentaram que eram imigrantes ilegais que aumentavam o crime, e não imigrantes de modo geral.

Uma análise derivada de novos dados agora é capaz de ajudar a resolver essa questão, sugerindo que o crescimento da imigração ilegal não eleva as taxas de criminalidade local. Em parte, porque é difícil coletar dados sobre eles, os imigrantes indocumentados, já que têm sido objeto de pouquíssimos estudos, incluindo estudos envolvendo crime. Mas o Pew Research Center, centro de informações dos Estados Unidos, divulgou recentemente estimativas de populações indocumentadas classificadas por área metropolitana, que o Projeto Marshall comparou com as taxas de criminalidade locais publicadas pelo FBI. Pela primeira vez, há uma oportunidade para uma análise mais ampla de como a imigração não autorizada pode ter afetado as taxas de criminalidade desde 2007.

A grande maioria das áreas registrou decréscimos, tanto nos crimes violentos quanto nos crimes contra a propriedade entre 2007 e 2016, em consonância com um declínio de 25% nos crimes nos Estados Unidos. A análise constatou que o crime caiu em taxas semelhantes, independentemente de a população indocumentada ter aumentado ou diminuído. Áreas com mais migração não autorizada pareciam ter quedas maiores nas taxas de criminalidade, embora a diferença fosse pequena e incerta (a própria imigração ilegal é uma violação civil ou uma contravenção, dependendo se alguém ultrapassou o visto ou atravessou a fronteira sem autorização).

A maioria dos tipos de crime tinha uma linha de tendência quase plana, indicando que as mudanças nas populações indocumentadas tiveram pouco ou nenhum efeito sobre o crime nas várias áreas metropolitanas pesquisadas. O assassinato foi o único tipo de crime que pareceu mostrar um aumento, mas novamente, a diferença era pequena e incerta (efetivamente zero). Para imigrantes indocumentados, ser preso por qualquer motivo significaria enfrentar uma eventual deportação.

Não há contagem exata de imigrantes não autorizados que vivem nos Estados Unidos. Para criar estimativas, especialistas da Pew subtraíram o Departamento de Segurança Interna de imigrantes com status legal do número de pessoas nascidas no estrangeiro contadas pelo Departamento do Censo. Muitas organizações e agências, incluindo o DHS, usam este método de estimativa residual; é geralmente considerado o melhor disponível. Até 2016, havia cerca de 10,7 milhões de imigrantes ilegais em todo o país, menos de um milhão e meio desde 2007. Jeffrey Passel, um demógrafo sênior da Pew, e sua equipe, estimaram mudanças em populações não documentadas para cerca de 180 áreas metropolitanas entre 2007 e 2016. Em comparação, o Projeto Marshall calculou as médias correspondentes de três anos das taxas de criminalidade violenta e de propriedade do programa Relatório Uniforme sobre Crimes, e a mudança nessas taxas. Os resultados da análise se assemelham aos de outros estudos sobre a relação entre imigração indocumentada e crime. No ano passado, um relatório do Instituto Cato descobriu que imigrantes não autorizados no Texas cometeram menos crimes do que seus colegas nativos.

Em análise a nível estadual sobre criminologia, uma revista acadêmica descobriu que a imigração indocumentada não aumentava o crime violento e que, na verdade, estava até associada a pequenas reduções na prática de crimes. Outro estudo da Cato descobriu que imigrantes não autorizados são menos propensos a serem presos.

No nível mais local, uma análise da revista Governing informou que as áreas metropolitanas com mais moradores indocumentados tinham taxas semelhantes de crimes violentos e taxas significativamente mais baixas de crimes contra a propriedade do que áreas com números menores de tais residentes em 2014. Depois de controlar vários fatores socioeconômicos o autor da análise, Mike Maciag, descobriu que, para cada aumento de 1% na população de uma área que estava em situação irregular, havia menos 94 crimes de propriedade por 100.000 habitantes. Mais pesquisas estão em andamento sobre os possíveis efeitos da imigração indocumentada no crime.

Robert Adelman, professor da Universidade de Buffalo, cuja pesquisa do grupo The Marshall Project e o Upshot documentou anteriormente, está liderando uma equipe para expandir a análise do governo. Os primeiros resultados sugerem que imigração não autorizada não tem efeito sobre crimes violentos, e está associada a menores crimes de propriedade. Já outras conclusões preliminares indicam, porém, que fatores socioeconômicos, como taxas de desemprego, instabilidade habitacional e dificuldades econômicas, sim influenciam no aumento de taxas de criminalidade, enquanto as populações de imigrantes indocumentados não o fazem.

Muitos estudos estabeleceram que os imigrantes cometem crimes a taxas consistentemente mais baixas do que os americanos nativos. Mas uma preocupação comum é se os imigrantes pressionam as populações nativas de várias formas – por exemplo, aumentando a competição por empregos – que poderiam indiretamente levar a mais crimes e outros impactos negativos. De acordo com Adelman e sua equipe, no entanto, o impacto dos imigrantes indocumentados é provavelmente semelhante ao que a pesquisa indica sobre os imigrantes: eles tendem a trazer benefícios econômicos e culturais para suas comunidades. “Eles normalmente vêm para a América para encontrar trabalho, não para cometer crimes”, diz Yulin Yang, um membro da equipe. Os dados sugerem que, quando se trata de crime, a diferença entre alguém que é chamado de imigrante legal e ilegal, não parece importar.

(com informações do The Marshal Project)

Fonte: Nossa Gente