O impacto da proibição temporária de turistas brasileiros na FL

Restaurante Camila´s em Orlando. Foto: Junior Charamba.

A entrada de qualquer pessoa, brasileira ou estrangeira, que não seja cidadã americana ou residente permanente, e que tenha passado os últimos 14 dias no Brasil, está temporariamente barrada nos Estados Unidos, conforme ordem executiva assinada por Donald Trump no domingo, 24. Com isso, setores que dependem do fluxo de turistas brasileiros na Flórida, vão ter que esperar um pouco mais. 

A decisão de Trump é uma resposta à pandemia de coronavírus na região da América do Sul, com destaque para o Brasil – que lidera em número de casos e mortes. Até a manhã desta sexta-feira, 29, o Brasil possuía mais de 443.540 casos de COVID-19 – o segundo maior com número de casos confirmados no mundo-, atrás somente dos EUA que tem mais de 1.729.180 casos, segundo dados da Universidade Johns Hopinks.

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Impacto no turismo da FL

A ordem não se aplica ao fluxo comercial entre os dois países, que será mantido, mas impacta diretamente o turismo, que é a principal indústria do estado, com um impacto econômico anual de US $ 86 bilhões e 1,5 milhão de empregos e que já registra queda por causa da pandemia. 

De acordo com um estudo recentemente divulgado pela Oxford Economics, a Flórida está entre os estados mais vulneráveis ​​ao choque econômico causado pela pandemia por ser o único estado densamente povoado, com uma parcela comparativamente grande de seus 21 milhões de habitantes com mais de 65 anos de idade e uma economia que é relativamente dependente das vendas no varejo e do turismo.

A Flórida tem sua receita maior advinda do turismo e com a falta temporária dos turistas estrangeiros, que começariam a voltar a visitar o estado agora no mês de junho pela reabertura dos parques em Orlando principalmente, e pela retomada dos voos internacionais saindo do Brasil, os locais vão ter que esperar um pouco mais para ver aquele movimento rotineiro de turistas.

Com voos suspensos ou reduzidos, as companhias aéreas viram sua receita despencar nos últimos dois meses. A Latam entrou com pedido de recuperação judicial nos EUA.

Única que continuou com voos do Brasil para a Flórida durante a pandemia, a Azul Linhas Aéreas chegou a anunciar um trecho extra saindo de Campinas para Fort Lauderdale excepcionalmente nesta quinta-feira, 28, (um dia antes do que seria o início da medida imposta por Trump antes da antecipação), mas teve que cancelá-lo. Por meio de nota ao Gazeta News, a empresa disse que cancelou o trecho extra e suspendeu os voos para Orlando, ficando com as operações semanais somente para Fort Lauderdale.

“Em função da medida do governo dos EUA que suspendeu temporariamente a entrada de brasileiros no país, iria operar um voo extra para Fort Lauderdale nesta quinta (28). No entanto, com a antecipação da decisão da Casa Branca para às 23h59 de hoje (26/5), a companhia cancelou sua operação adicional”, informou.

Rodrigo Fonseca, Cônsul Adjunto e Chefe do Setor Econômico e de Promoção Comercial do Consulado Geral do Brasil em Miami.

Impacto para a comunidade brasileira na FL

Para Rodrigo Fonseca, Cônsul Adjunto e Chefe do Setor Econômico e de Promoção Comercial do Consulado Geral do Brasil em Miami, essa suspensão de turistas impactará fortemente a comunidade brasileira local, mas ele acredita que seja uma situação temporária e que a recuperação não vai demorar. 

“Lembrando que a medida não é exclusiva aos cidadãos provenientes do Brasil, mas já estava em vigor há alguns meses em relação a outros países. A situação atual é incerta e delicada, mas eventualmente será amenizada. Recordando que o Brasil também proibiu a entrada de estrangeiros no país. Medidas restritivas têm sido adotadas por diferentes países e se mostram necessárias diante do contexto atual. Lembrando que os residentes permanentes norte-americanos e demais exceções elencadas pelo governo norte-americano poderão entrar no país”, afirmou.

Apesar do impacto sentido pela pandemia, Fonseca acredita na retomada segura e gradual das atividades tanto na Flórida quanto no Brasil.

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“Tenho certeza de que o turismo voltará a médio prazo a recuperar seu papel de principal atividade gerador de emprego no mundo. O turismo, que, num primeiro momento, esteve se ressentindo do impacto direto da suspensão de voos e de possibilidade de hospedagem que forma, junto com o segmento de restaurantes, bares, albergues, entre outros – a importantíssima indústria da hospitalidade”, afirma.

Corretor de imóveis filiado ao Coldwell Banker e que representa em Orlando o Grupo Brasileiro WAM de Hotelaria e outros dois grupos brasileiros de investidores imobiliários na região central da Flórida, Miguel Kaled fala sobre esse impacto atual pela pandemia, relembra outras vezes em que a cidade sofreu com as recessões econômicas e aponta a diversidade como característica primordial para a recuperação rápida de Orlando.

“Haverá um impacto grande nas lojas, restaurantes e no setor de hotelaria em geral, quer nos hotéis ou nos aluguéis de casas de férias. As companhias aéreas também devem sofrer, acompanhadas do mercado imobiliário exclusivo a brasileiros. Mas tudo retornará, mais forte”, salienta.

Júnior Charamba, proprietário do Camila´s em Orlando.

Queda de 85% dos clientes 

Com uma média diária de três mil pessoas na alta temporada e mil na baixa temporada, o impacto dessa pandemia reduziu em torno de 85% o fluxo de clientes no Camila´s, conhecido restaurante brasileiro em Orlando. A decisão do governo sobre a entrada de turistas brasileiros vai adiar um pouco mais o retorno para melhorar os negócios. 

Segundo o proprietário Júnior Charamba, a ausência de brasileiros mesmo que seja temporária, terá um impacto muito grande na economia dos que os têm como principal cliente.

“Estamos esperando um retorno mais forte dos turistas em setembro, pois além da situação de pandemia que estamos vivendo, ainda tem o dólar que está alto que dificulta o retorno imediato dos turistas brasileiros. Acreditamos que daqui pra frente terá muita cautela das pessoas que pensam em viajar e desprender um alto valor pra isso”, completa.

Planos adiados

Não só no lado econômico, mas também no lado pessoal, a proibição temporária impacta os planos de brasileiros. Como o da mãe da paulista R.V. , 28 anos, (nome não revelado a pedido), que não poderá vir para ajudar a filha como estava programado. “Minha mãe tem o visto de turista e viria daqui duas semanas para passar alguns meses comigo. Estou grávida e ela viria me ajudar com a chegada do neném. Agora não sabemos como vai ser”, conta a moradora de Pompano Beach.

Aurelia Gordon antecipou embarque para o Brasil. Foto: arquivo pessoal.

Com ida marcada para o Rio de Janeiro, a empresária Aurelia Gordon, 50 anos, resolveu antecipar a viagem. Apesar de ser residente permanente nos EUA, o receio pelas recentes mudanças falou mais alto. “Eu tinha programado de ir em janeiro, mas fiquei esperando a pandemia reduzir aqui para ir. Quando foi autorizada a abertura fase 1, resolvi porque justamente pensei ou que ia ficar pior lá ou haveria esta proibição de voos. Me programei para mais tempo, mas vou ficar só uma semana, o tempo necessário para resolver meus negócios. O receio porque lá (Rio) também está com muitos casos existe, mas vou direto para casa e resolver tudo de lá”, explicou.

Impacto nos negócios brasileiros na FL

Nos últimos anos, a Flórida Central viu um grande fluxo de pessoas do Brasil se mudar para a região. Também houve um aumento na quantidade de restaurantes e negócios de propriedade e temáticos do Brasil na área.

Um levantamento da Visa Franchise, consultoria americana especializada na abertura de negócios nos Estados Unidos, mapeou a preferência dos brasileiros para abrir um próprio negócio e revelou que 90% dos empresários tem a Flórida como principal destino de quem deseja abrir seu próprio negócio.

Por isso, apesar das decisões que impactaram o setor por causa da pandemia, Fonseca acredita que a comunidade brasileira terá condições de se reorganizar para continuar no mercado.

“A comunidade empresarial brasileira tem condições de reorientar suas atividades em função do novo normal. Nesse sentido, penso que haverá oportunidades novas nos segmentos de e-commerce, dos alimentos e bebidas fáceis de preparo com boa aceitação por parte do consumidor consciente e conectado aos conceitos de sustentabilidade, sanidade animal e respeito às condições de trabalho de quem produz aquilo que nos alimenta e nos dá a vida.

Realçando de forma positiva a realidade pós-pandemia, para o Cônsul Adjunto, as perspectivas para o ramo de construção de unidades residenciais serão boas, “pois estas deverão ser, em algum momento pós-pandemia, objeto de adaptações e reformas que garantam conforto da família para a eventualidade de novos períodos de quarentena (que espero não ocorram tão cedo novamente). Também terão de ser as residências adaptadas para a cada vez mais comum realidade do home office”, destaca.

Segundo Fonseca, a procura de brasileiros interessados em exportar para os EUA aumentou 30%, mesmo durante o período de quarentena (dois meses). “Houve incremento de cerca de 30% no volume sobretudo de alimentos, vestuário, madeira e insumos para a indústria médico-hospitalar”. E lembra que o Brasil l tem sido o maior parceiro comercial da Flórida, com uma balança comercial da casa dos U$4 20 bilhões. “Segundo lugar é a China com a metade disso”.

Miguel Kaled, corretor de imóveis filiado ao Coldwell Banker e representante de grupos de investidores brasileiros em Orlando.

Kaled analisa outras recessões e expõe o que faz da Flórida um local de rápida recuperação econômica. “Esta é a minha terceira recessão grande. Tivemos a do 11 de setembro de 2001 e a crise de 2008. Orlando tem características de recessão tipo “V”, ou seja, cai rápido e se recupera rápido. Há muitos estrangeiros e a economia é diversificada em hotelaria, entretenimento, universidades, área hospitalar, tecnologia de ponta, setor financeiro em expansão e o mercado imobiliário, que é a maior economia. E outras. Essa diversificação se alterna e não deixa que Orlando morra. Orlando verga mas não quebra. É e continuará sendo um excelente lugar para se criar uma família e ganhar dinheiro”, realça.

Nos últimos anos, houve um aumento no número de negócios comandados ou com a temática brasileira na Flórida. Sobre a perspectiva desse mercado pós-pandemia, o corretor opina que o investidor brasileiro vai continuar procurando pela região central da Flórida pela segurança. “A segurança é o primeiro item que o investidor brasileiro procura e é isso que oferecemos em primeiro lugar”, enfatiza.

 

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Fonte: Gazeta News

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