Sem trabalho, brasileiros na FL se reinventam para pagar as contas durante a pandemia

Marcela Maia (direita) teve a ideia de confeccionar máscaras para vender. Foto: arquivo pessoal.

Milhares de pessoas estão se reinventando e mudando completamente o ramo de trabalho para se manter durante essa pandemia do novo coronavírus. Costura e venda de máscaras, construção civil, cozinha, limpeza de casa, motorista por aplicativo. Com taxa de desemprego aumentando, tanto na Flórida como em todo o país, quem não tem direito ao seguro-desemprego precisa arrumar outro tipo de trabalho.

Essa realidade forçou milhões de pessoas à quarentena e ao auto-isolamento. Muitos estão trabalhando em casa e outros milhares foram dispensados do emprego. Só na semana passada, mais de 222.000 pessoas conseguiram pedir seguro-desemprego na Flórida. Economistas do Federal Reserve projetam reduções totais de emprego de 47 milhões, o que se traduz em uma taxa de desemprego de 32,1%, de acordo com uma análise recente do órgão caso a situação piore. Com isso, profissionais estão sendo obrigados a encontrar um outro tipo de sustento.

“Estamos vivendo uma situação completamente extraordinária sobre a qual perdemos o controle porque não sabemos quando as coisas vão voltar à normalidade. Não é simplesmente uma pausa – é mais do que isso. E essa incerteza pode deixar as pessoas mais perturbadas. No lado profissional, essa situação pode trazer um transtorno em relação aos planos e projetos, mas precisamos aprender a viver o momento, a viver o dia a dia para evitar se contaminar demais com a ansiedade numa tentativa de enxergar o futuro”, analisa a psicoterapeuta Adriana Tanese.

Se abrir para algo novo

Tanese sugere que as pessoas busquem desenvolver uma flexibilidade principalmente para o trabalho. “É o momento para descobrir novos aspectos positivos, inclusive de nós mesmos, que podem servir nesse momento. Isso ajuda a arcar com esta realidade. Para passar o tempo e mantermos uma postura positiva porque somos pró-ativos e somos produtivos. É muito importante encontrarmos formas de nos sentirmos produtivos e isso pode variar entre as atividades que não rendem dinheiro, mas que fazem muito bem à alma e à mente, e que podem um dia vir a render dinheiro, e aquelas feitas com o intuito e necessidade de ganhar dinheiro. É o momento que a gente deve se abrir para o novo e desenvolver flexibilidade. Quem sabe desses novos movimentos surjam novas oportunidades, novos interesses, novos contatos”, define.

Diante da situação e sem o trabalho que tinham, brasileiros que moram na Flórida contam como estão se reinventando para passar pela crise gerada pela pandemia.

Máscaras como fonte de renda

Ao perceber que não encontrava mais máscaras de prevenção descartáveis para comprar, Marcela Maia, 38 anos, decidiu fazer suas próprias. Como também estava ficando sem dinheiro – o mercado de vendas de roupas com o qual trabalha foi bastante afetado – resolveu tentar confeccionar personalizadas para vender.

“Chamei uma amiga, a Déborah, e fomos atrás do material para começar”, conta. Mesmo sem saber recortar e costurar uma peça de roupa, Maia resolveu que iria aprender.

“Estava precisando de máscara, porém não encontrava em lugar nenhum. Estava também precisando de dinheiro porque trabalho com vendas de roupa e já estava bastante difícil. Foi aí que tive a ideia de fazer as máscaras para vender”, conta.

O negócio tem dado tão certo que ela já conseguiu juntar o dinheiro do aluguel e das contas do mês. “Em menos de 1 semana vendemos 200 máscaras. Cada uma custa 15 dólares. E já temos pedidos de empresas que encomendaram 100 peças de uma vez. Agora temos recebido pedidos todos os dias”, ressalta.

Máscaras reutilizáveis

Segundo Marcela, que mora em Coconut Creek, as máscaras são confeccionadas com tecido 100% poliéster conforme recomendado pela Organização Mundial de Saúde. “As máscaras são laváveis e devem ser esterilizadas na máquina de secar ou no ferro de passar”, explica Marcela.

E reforça o alerta quanto ao uso e conservação. “Sempre explico aos clientes que a máscara de tecido é uma ajuda a mais na prevenção, mas é para ser usada em casos específicos e não para ficar o dia todo, por exemplo. E reforço os cuidados que devem ter, como não deixar a máscara no carro e, ao tirá-la, lavar com sabão neutro e secar normalmente, mas antes do reuso, é preciso passar o ferro bem quente para garantir que estará esterilizada”, detalha.

Questionada sobre o uso de máscaras de pano ao invés das descartáveis, Marcela aponta que as autoridades de saúde estão até “recomendando o uso de máscaras caseiras porque as pessoas compram nas lojas as descartáveis e os hospitais acabam ficando sem”.

Elas também decidiram fazer máscaras para doar para hospitais e não pensam em parar de confeccionar mesmo depois que passar a pandemia. “Amei aprender a costurar e quero fazer também outras coisas pois amei criar”, finaliza. Para ver a produção, acesse a página no Instagram “estilo bem brasileiro“.

Não é para usar máscara sem exclusiva necessidade

No entanto, é preciso reforçar que as autoridades de saúde não recomendam, até ao momento, o uso de máscara de proteção para pessoas que NÃO apresentam sintomas (assintomáticas). O uso de máscara de forma incorreta pode aumentar o risco de infecção, por estar mal colocada ou devido ao contacto das mãos com a face. A máscara contribui também para uma “falsa sensação de segurança“, explicam.

No caso de pessoas que não apresentam nenhum sintoma, o uso da máscara pode ser reservado para prevenção em caso de ter que ir a local com mais pessoas ou que possa ter risco com pessoas doentes (consulta médica, por exemplo).

Andressa de Souza e o marido Nilberto Lima com os filhos. Foto: arquivo pessoal.

Revezamento nas corridas por aplicativo

Donos de uma empresa em Orlando que faz camisetas e personalizados em geral e sem encomendas por causa da crise, Andressa de Souza e o marido Nilberto Lima apostaram nas corridas por aplicativo e estão se revezando nos cuidados com dois filhos pequenos e também no “bico”.

“Ficamos sem encomendas por pelo menos duas semanas seguidas, então meu esposo resolveu fazer corridas pelo lyft e uber. Mesmo para transporte, como as pessoas estão ficando em casa pelas medidas de isolamento social, o movimento está super fraco. Estamos nos revezando, ele sai às cinco da manhã e fica até meio dia e eu saio 1 hora da tarde e fico até a hora que tem movimento”, conta Andressa.

Além de empresário, Andressa conta que o marido é professor de hip hip e personal trainer e não está dando aula há mais de duas semanas. “Quando o movimento na empresa ficava fraco, meu marido já recorreu ao trabalho de motorista, mas geralmente não passava de três dias. Agora estamos fazendo todos os dias, menos domingo”, completa.

Com o custo de vida ainda em conta, segundo Andressa, o casal tem conseguido se manter. “Bem apertados, mas conseguimos pelo menos pagar as contas. Nada foi cortado. O mais caro é o aluguel, acho que pra todos. Pagamos $1.000 de aluguel pois moramos num condomínio que tem subsídio do governo. Entre todas as contas: aluguel, carro, luz, mercado, gastamos em torno de $2.000. A única coisa que cortamos foi Amazon prime e as compras de supérfluos”, detalha.

Quando o pior passar e as medidas do governo forem encerradas, o casal pretende retomar a vida normal com a empresa e as aulas. A mudança também atinge a rotina de comemorações na família. “Minha filha faz 5 anos no dia 1° de abril e não vai ter festa, vamos fazer um bolo em casa só pra gente”, afirma.

O casal se reveza também nos cuidados, inclusive com a mudança na rotina pela higiene redobrada. “Estamos pegando no pé da mais velha para lavar sempre a mãozinha. Mas é difícil, né? Uma criança de 5 anos dentro de casa muito tempo. E pra ela gastar energia, saímos pra andar de patins com ela”, destaca.

Adriana Maciel com as filhas. Foto: arquivo pessoal.

Babysitter para pagar o aluguel

Atualmente desempregada porque a clínica de estética em que trabalhava teve que suspender temporariamente os serviços, a esteticista Adriana Maciel conta que os trabalhos esporádicos como ‘helper’ e ‘babysitter’ é o que tem ajudado a segurar as pontas.

Morando com as duas filhas em Boca Raton, Adriana conta que ainda não sabe como vai fazer para pagar as próximas contas . “Ainda não juntei o suficiente pra pagar o aluguel porque quase não trabalhei neste mês de março, mas continuo na luta”, diz.

A esteticista acrescenta que está em casa há quatro semanas e, portanto, sem receber. “Neste período, já trabalhei como helper em limpeza, babysitter e faço algumas consultorias pela internet, mas que também agora estão diminuindo”, conta Maciel.

Segundo a esteticista, a filha mais velha também trabalha como babysitter e ajudava nas contas, mas não tem trabalhado com a mesma frequência por causa das medidas pelo coronavírus. “Paguei as contas básicas e comida, mas o dinheiro do aluguel ainda não consegui juntar. Já avisei ao dono e ele foi super compreensivo com isso, pois sou bem pontual nos compromissos, mas esta situação me incomoda muito. Hoje terei que pegar cesta de alimentos numa igreja que conheço, pois não tenho mais como ir ao mercado. Quem trabalha com prestação de serviços não tem muito o que fazer se tiver que ficar em casa sem trabalhar”, desabafa.

O post Sem trabalho, brasileiros na FL se reinventam para pagar as contas durante a pandemia apareceu primeiro em .

Fonte: Gazeta News