Amsterdã vai proibir visitas turísticas ao distrito da luz vermelha

​​Amsterdã vai proibir excursões turísticas com guias ao distrito da luz vermelha, região de prostituição da cidade.

A iniciativa faz parte da mais recente campanha do governo municipal para enfrentar a superlotação e melhorar as condições de trabalho dos profissionais do sexo na área.

“Estamos proibindo excursões que levem turistas às vitrines dos profissionais do sexo, não só porque queremos prevenir a superlotação no distrito da prostituição como também por isso ser desrespeitoso para com esses trabalhadores”, afirmou Udo Kock, vice-prefeito de Amsterdã, em comunicado divulgado no dia 20.

“Tratar os profissionais do sexo como atração turística é antiquado”, ele acrescentou.

A medida entrará em vigor em 1º de janeiro e também proibirá excursões guiadas gratuitas e divulgação desse tipo de tour junto aos turistas, segundo o comunicado.

Ainda que a capital holandesa, Amsterdã, tenha joias culturais distintivas —galerias, museus, restaurantes e os emblemáticos canais da cidade, para citar apenas algumas—, há décadas os turistas também vêm sendo atraídos à cidade pela maconha e pela prostituição, que são legais na capital holandesa.

Mas sua popularidade como um destino turístico relativamente barato e versátil viu o número de visitantes subir ao total asfixiante de quase 19 milhões no ano passado.

As ruas superlotadas e o comportamento arruaceiro de alguns turistas vêm causando problemas cada vez maiores para as autoridades holandesas.

Mais de mil excursões guiadas passam pela Oudekerksplein —a principal praça no distrito de prostituição— a cada semana, segundo o governo municipal. Mas as multidões não beneficiam os profissionais do sexo; atrair a atenção dos turistas muitas vezes os leva a perder potenciais clientes pagantes.

A prefeitura afirma que os moradores e as empresas locais do distrito da luz vermelha “passam por perturbações causadas por grupos de turistas”, e que 80% dos profissionais do sexo consultados afirmam que as excursões “têm efeito negativo sobre seus negócios”.

“Além disso, os profissionais do sexo ainda passam por problemas severos com os participantes das excursões guiadas, tais como comportamento rude e fotografias não autorizadas”, as autoridades afirmam.

Niek Prast, gerente da Strawberry Tours, uma pequena empresa que organiza visitas guiadas a Amsterdã, disse que se o governo implementar de fato a proibição, isso seria “um pequeno desastre” para seus negócios.

“Eu compreendo o que eles estão tentando realizar”, disse Prast, “mas creio que o governo deseje determinar até onde pode chegar; acho que eles estão esperando para ver que reação a ideia causa”, ele afirmou em entrevista por telefone.

Prast também disse que era improvável que a medida resolva o problema —e que pode até agravar as coisas.

“Não é como se o fim das excursões guiadas signifique que as pessoas deixarão de ir —o pessoal vai continuar indo ao distrito de prostituição”, ele disse. “E ninguém estará lá para pedir que as pessoas falem baixo, se comportem, ou para pedir que elas não tirem fotos e sejam respeitosas”.

Na quarta-feira (20), as autoridades também anunciaram medidas adicionais para administrar o turismo, todas as quais entrarão em vigor em 1º de janeiro. Entre elas está a redução para 15 pessoas no número máximo de participantes de excursões guiadas à cidade (o limite atual é 20); tornar obrigatória a certificação oficial de guias; e a cobrança de um imposto adicional dos participantes de excursões.

O governo municipal começará a restringir as excursões ao distrito de prostituição antes que a proibição entre em vigor. Em 1º de abril, elas não poderão acontecer depois das 19h (hoje elas estão autorizadas até as 23h).

As medidas se seguem a diversas outras providências tomadas pelas autoridades de Amsterdã para tentar regulamentar o comportamento dos turistas, em geral entusiásticos e em muitos casos embriagados.

No ano passado, o governo de Femke Halsema, a prefeita de Amsterdã, anunciou diversas medidas nesse sentido, entre as quais uma campanha de limpeza rigorosa das ruas; aplicação imediata de multas de até 140 euros, ou R$ 620, por urinar em lugares públicos, embriaguez ou ruído excessivo; e uma campanha de marketing para convencer os visitantes a respeitar a cidade e suas regras.

Mascha ten Bruggencate, administradora municipal encarregada de executar as novas regras, disse no final do ano passado que havia um lugar óbvio para começar.

“O distrito de prostituição simboliza o problema”, ela disse ao New York Times.

Tradução de Paulo Migliacci

Fonte: Folha de S.Paulo