Comecei 2023 servindo hambúrguer na posse do Lula

As coisas, mais uma vez, saíram totalmente de controle.

Vim para Brasília para a posse do presidente Lula e para visitar família e amigos.

Não pretendia passar muito tempo no evento da posse em si. Tenho pavor de multidões. O plano era dar uma passada, contemplar o mar de gente, voltar e assistir o resto em frente à TV, com abundância de cerveja gelada.

Na quinta-feira (29/12), cruzei com o Gil Guimarães. Ele, que tem vários restaurantes no Distrito Federal, me levou para o Bar Superquadra, na Asa Norte. Sentamos à mesa com o Tonico Lichtsztejn, dono da birosca, corintiano figuraça.

Cerva vai, cerva vem, fico sabendo que o Superquadra iria fazer o rango da área VIP do Festival do Futuro, mais conhecido por Lulapalooza.

Então o Tonico me solta esta: “Marcão, você quer entrar com a gente? Posso te colocar de ajudante de cozinha”.

Upalelê. O-bó-vio que sim!

O combinado era chegar lá pelo meio da tarde, pois os funcionários do bar deveriam dar conta do movimento. Quanto a mim, bem, eu seria um convidado com pulseira de cozinheiro. Era o que eu pensava.

No dia da posse, lá pelas 13h, recebo um zap do Tonico. Ele me pede para chegar logo ao ponto de encontro, no bar da Asa Norte, pois o bicho estava pegando no evento. Ele precisava chegar logo para apagar incêndio.

Colo no Superquadra e me acomodo com o Tonico, que bebia com três amigos. Ele diz o que eu já esperava ouvir: “Então… você era para ser só convidado, mas vai precisar trabalhar… o pessoal tá atolado demais.”

Descemos a pé a Esplanada dos Ministérios e chegamos à tenda do Superquadra, atrás do palco do show. As pessoas na fila, que estava gigantesca, aplaudem a aparição de quatro pessoas para desafogar o caos.

Mas tinha um problema: eu não sou cozinheiro.

Ou melhor, problema para mim, não para o Tonico. Ele tinha uma função para mim. Tonico me soltava os pedidos prontos; eu os entregava para os clientes.

E toca a entregar hambúrguer. E enche barquinha de papel encerado com a batata frita que veio da cozinha. E grita o número da comanda para ver se alguém aparece. E derrete de tanto suar no calor da churrasqueira. E ouve reclamação do cliente que queria o hambúrguer bem passado. E vai fazer escambo com os vizinhos da cervejaria Quatro Poderes.

Fui pago em hambúrguer e batatinha –ambos excelentes.

O sufoco durou uma hora e meia, até que o fluxo se normalizou. Aí escapuli e fui sacar a multidão lá atrás, do cercado abaixo do palco, bem quando a cerimônia oficial tocava o Hino Nacional.

Arrepiou até os pelos da nuca.

Quando voltava para a área coberta, um sujeito me interpelou: “Cara, o hambúrguer estava bom pra cacete”.

Eu tentei dizer que fui parar ali de gaiato, que não tinha mérito algum na coisa. Ele insistiu: “Tava realmente muito bom”.

Não vi alternativa senão soltar aquela palavrinha mágica: “Obrigado”.

Repito: obrigado.

(Siga e curta a Cozinha Bruta nas redes sociais. Acompanhe os posts do Instagram e do Twitter.)

Fonte: Folha de S.Paulo