Mortadela de cavalo: qual é o problema?

Estava em Milão, Itália, trabalhando em reportagem sobre os bares locais. Uma amiga, que mora na cidade, me recomendou o sanduíche de berinjela e uma lanchonete siciliana próxima ao Naviglio Grande, canal em cujas margens floresce a Santa Cecília local.

No cardápio da tal lanchonete, opções um tanto mais inusitadas: hambúrgueres de carne de cavalo e de jumento. Optei pela berinjela que, afinal, me havia sido recomendada. Estava ótima.

Não comi cavalo ou jumento por uma razão simples: nada indicava que aquele era um lugar especialmente bom para esse tipo de aventura. Se eu pedisse um x-alazão e achasse ruim, não saberia se a culpa era do restaurante.

Na Itália, na França e em outros países, o consumo de carne de cavalo é absolutamente normal. Há açougues especializados por todos os cantos.

No Brasil, é um baita de um tabu.

Descobriram recentemente, em Cuiabá, uma pocilga em que alguém descartava ossos de cavalo. A polícia local não dá muitos detalhes, mas parece que um homem matava os animais para fazer (e vender) embutidos e carne de sol.

A lenda da mortadela de cavalo é um clássico da minha geração. Muita gente tinha medo de comer mortadela porque, segundo um enredo fantasioso, ela era feita com cavalos velhos demais para trabalhar –que as fábricas compravam a preço de banana.

O que existe de verdade é essa produção clandestina, irregular, sem nenhum cuidado sanitário, absolutamente nojenta. Sei lá onde vende e sei lá quem compra o bagulho… quero distância.

Na Itália, a mortadela de cavalo é uma especialidade do Lácio, região em que se encontra Roma. É um produto caro, feito por artesãos locais.

Não existe razão para se comer boi e ter nojo de carne de cavalo. “Ain, mas é um animal inteligente…” O porco é mais, talvez mais do que o cachorro. Só não vou meter o cachorro nas discussão para não perder de vez o foco.

Comi cavalo uma vez na vida, num restaurante japonês em São Paulo. Era um sushi de basashi, carne crua de cavalo. Paguei caro. Fiquei mastigando horas a carne, dura e sem gosto, depois que o arroz já havia descido todo.

Da próxima vez em que for comer cavalo, quero ter a certeza de que será o melhor cavalo possível. Aí serei capaz de dizer se gosto ou não da carne.

Fonte: Folha de S.Paulo