Por que você não dá descarga no banheiro do restaurante?

Ei, você. Isso, você mesmo.

Gostaria que você me explicasse uma coisa. Qual é a graça de sair do banheiro do restaurante sem apertar a descarga? Sério: o que você ganha com isso?

Olhe ao seu redor. Estamos em um restaurante bacana, com gente bonita e estudada, comida para compartilhar, garçons e garçonetes bonitões, banheiro unissex, coquetéis autorais, hambúrguer artesanal.

Eu imaginava que a clientela fosse mais educada. E… amigão, se ainda fosse um xixi… Não, é um aviltante número dois. Maldita seja a sua prole!

Banheiro todo bonitão. Temporizador de cheirinho. Sabão que já vem em espuma, para te poupar do esforço de esfregar as mãos. Enxaguador bucal. Descarga com dois volumes de jato. Não é possível que você simplesmente tenha esquecido de apertar o botão. Ele é muito bonito, tem design moderno, não há como ignorá-lo.

Fico pensando: qual é o tipo de prazer que essa travessura pode te dar? Você deve ficar imaginando o asco e a irritação daqueles que, como eu, interrompem a refeição para urinar e se deparam com a longa enguia gorda que você deixou no vaso. Só imaginando, né?, pois você sequer tem a coragem de ficar por lá para observar a reação.

Babaca. Covarde.

Nossa, como você é transgressor. Vai lá e, anonimamente, deposita o seu protesto fecal contra a sociedade de consumo. Goza internamente enquanto saboreia o salmão asiático ao molho de gengibre com arroz negro.

Você deve achar libertador romper com todas as convenções e normas, não acha? Quase entendo você. Vidinha miseravelmente chata que você leva, meu amigo. Mas existem outras válvulas de escape. Já ouviu falar de sexo?

Aliás, quem é você?

Sei que você ainda está no recinto (sim, sei disso pelo aspecto do seu “presente”).

Não tente me iludir, dizer que é coisa de funcionário irritado com o patrão. Essa não cola. E o banheiro dos empregados fica atrás da cozinha. Pulha. Vivaldino. Ainda tenta botar a culpa nos outros. Cagão. Duplamente cagão.

Será que você é o cara que fala mais alto naquela mesa de quatro homens? Não… seria óbvio demais.

Ou você é o sujeito que está com a filha no colo, ela quase dormindo? Espero que pelo menos tenha lavado as mãos, seu porco!

Mas…. um momento. Por que eu dou por certo que você é homem? Mulheres também fazem cocô. Mulheres também sabem ser terrivelmente mal-educadas.

Será que é você, vovó? Não. Torço para que não seja. O mundo não pode ser tão perverso. Não quero morar num planeta em que as velhinhas plantam bombas de fedor em lugares públicos.

É a lindinha com pinta de modelo ali no canto? Não, ela não parece muito animada com a comida no prato. Não teria material para a obra.

E se for uma criança? Crianças fazem coisas bem escrotas para se divertir. Não. Só tem duas no salão. Uma está dormindo. A outra não coaduna com a dimensão da kafta flutuante.

Inferno. Não conseguirei desmascarar o sujismundo.

Mas olhe aqui. Você é um(a) sociopata.

Você, seja lá você quem for: um dia desses, quando você menos esperar, vai apertar com os dedos uma pelota de ranho verdejante e cremoso na maçaneta do seu carro.

Aqui se faz, aqui se caga. Perdão: aqui se paga.

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Fonte: Folha de S.Paulo