Viagens no Natal e Ano-Novo implicam riscos, muvuca e preço alto

O turista que pretende viajar no fim de ano, apesar das medidas de restrições impostas pela pandemia, deverá encontrar hotéis e pousadas cheios e preços típicos das altas temporadas.

A rede hoteleira nas cidades litorâneas e hotéis-fazendas no interior devem registrar ocupação máxima permitida pelos municípios nos últimos dias de 2020, segundo expectativa de Manoel Linhares, presidente da ABIH (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis). Em geral, a capacidade limite é de 60% a 70% das vagas.

Os custos aumentaram em consequência da implantação de medidas de segurança para evitar a disseminação do vírus, mas, de acordo com Linhares, o preço praticado no setor será o mesmo do registrado em dezembro do ano passado, portanto, na alta temporada.

Para preservar o negócio e a segurança dos clientes, hotéis e pousadas seguem recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde) sobre distanciamento social e uso de máscaras em áreas comuns.

Também passaram a investir na tecnologia para realização de checkin e checkout online, implantação de cardápios digitais nos restaurantes e desenvolvimento de aplicativos nos quais os hóspedes conseguem reservar horários para uso de piscinas ou quadras.

Os estabelecimentos também mudaram procedimentos de serviços. A maioria dos hotéis e pousadas adotou o chamado bufê invertido —quando um funcionário equipado serve a refeição para evitar que muitas pessoas se aproximem dos alimentos.

Refeições também ganharam opção à la carte que, dependendo do local, podem ser entregues nos quartos.

De acordo com o presidente do Instituto de Desenvolvimento do Turismo, Bruno Omori, com a flexibilização das restrições no segundo semestre, turistas viajaram, em um primeiro momento, para cidades próximas —até 50 km de seus locais de origem.

Segundo ele, esses viajantes conheceram de perto os protocolos nos hotéis e pousadas e, agora, já estariam dispostos a encarar voos domésticos.

Omori projeta que o movimento de turistas pelo país no fim do ano alcance o registrado em 2019. Ele avalia que o setor será impulsionado principalmente por pessoas que costumavam viajar para o exterior e que agora, com fronteiras fechadas, devem procurar hotéis e resorts de luxo no Brasil.

Apesar de mais demorado, viajar de carro é o meio de deslocamento mais recomendado, desde que os passageiros tenham respeitado pelo menos a última semana em quarentena. Também vale deixar as janelas do veículo abertas, evitar ligar o ar-condicionado e não fazer paradas em locais com aglomeração.

É preciso limpar com álcool em gel superfícies que são tocadas com frequência, como o volante, cinto de segurança, o câmbio ou botões no painel do carro.

Ainda assim, em um automóvel com quatro ou cinco ocupantes, se uma pessoa estiver contaminada, a chance de todas as outras também se contaminarem é alta.

Quando as pessoas viajam com desconhecidos, como é o caso dos deslocamentos de avião ou de ônibus, aumentam as chances de contágio.

É recomendável que durante o trajeto os passageiros não negligenciem o uso das máscaras e tenham outras de reserva na bagagem de mão. É importante trocar o acessório a cada quatro horas ou quando ficar umedecido.

Quanto menos as pessoas transitarem nos corredores dos meios de transporte, menor as chances de contágio.

Para muita gente, a hora do lanche ou das refeições é a mais esperada durante o voo. Mas, segundo a infectologista Tânia Chaves, coordenadora do comitê de medicina de viagem da Sociedade Brasileira de Infectologia, as pessoas não deveriam nem comer a bordo para evitar a retirada da máscara e o espalhamento de gotículas no ambiente.

Se a fome não der trégua, é melhor combinar com o vizinho e alternar o horário da refeição.

A queda do número de passageiros nos últimos meses não significa que os aviões decolaram com pessoas distantes umas das outras. No fim do ano, não deve ser diferente.

No Brasil, nenhuma empresa restringiu a ocupação das aeronaves, que caiu apenas 8,3% nos voos domésticos de março a outubro quando comparado ao mesmo período do ano passado, segundo dados da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).

Assim como nos aviões, as ocupações dos ônibus também não diminuíram. Em outubro deste ano, os 26.998 veículos que desembarcaram nos terminais do Tietê, Barra Funda e Jabaquara, em São Paulo, tiveram média de 24,6 passageiros. No mesmo mês do ano passado, a média dos 53.125 veículos foi praticamente a mesma: 24,5.

Os dados foram divulgados pelo Observatório de Turismo e Eventos da Cidade de São Paulo, que recolhe os números junto à Socicam, empresa que administra terminais de ônibus na capital paulista.

A Artesp (Agência de Transporte do Estado de São Paulo) autorizou a redução de alguns horários dos ônibus intermunicipais. No entanto, as empresas têm de priorizar os intervalos entre 5h e 8h; 11h e 13h e 17h e 20h, com maiores demandas.

De acordo com a Viajanet, agência de viagens online, os destinos nacionais correspondem a 85,6% das buscas na empresa. Cidades no Nordeste se destacam como as preferidas dos brasileiros para o fim do ano.

Na CVC, Natal (RN), Maceió (AL), Jericoacoara (CE), Porto de Galinhas (PE), Recife (PE) e Salvador (BA) são as mais procuradas.

Na agência Decolar, dos dez destinos mais buscados para o Ano-Novo em sua plataforma, seis ficam no Nordeste. O primeiro mais buscado é o Rio de Janeiro (RJ), na região Sudeste, seguido pelas cidades nordestinas Fortaleza (CE) e Maceió.

Jair Galvão, secretário de Turismo, Esporte e Lazer da capital alagoana, cita os números da pandemia como fator que tem ajudado a atrair novos turistas à cidade. Embora a incidência do coronavírus esteja em alta em Alagoas, a média móvel de mortes no estado continua caindo.

“Além disso, temos a orla mais bonita do Brasil, que oferece uma série de experiências ao ar livre e passeios às piscinas naturais distantes apenas 15 minutos da costa, seja de caiaque, stand up paddle, jangada ou catamarã”, afirma Galvão.

Quem está mesmo disposto a viajar deve consultar com antecedência os sites das secretarias estaduais de turismo e prefeituras locais para conhecer os protocolos adotados para funcionamento do comércio local, da rede de saúde e eventuais atividades turísticas que estejam abertas ao público, seguindo normas de segurança. Também deve pesquisar por eventuais decretos estaduais e municipais.

Em Belo Horizonte (MG), o prefeito Alexandre Kalil (PSD) proibiu o consumo de bebidas alcoólicas em bares e restaurantes da cidade. A decisão foi tomada com o objetivo de “diminuir a circulação de pessoas, ampliar o distanciamento social e conter comportamentos que têm ampliado o risco de contágio”, por causa da alta no número de casos de Covid-19 nas últimas semanas.

Em São Paulo, o governador João Doria (PSDB) afirmou que o estado irá proibir “qualquer tipo de festa, celebração, privada ou pública” enquanto não houver vacinação da população.

Nos hotéis paulistanos, as ceias de Natal e Ano-Novo serão servidas até as 22h. As mesas terão distanciamento umas das outras e grupos musicais devem ser substituídos pelo som ambiente ou por um único músico. As pistas de dança permanecerão fechadas.

Segundo a infectologista Tânia Chaves, bares e restaurantes são os ambientes mais propícios à contaminação. “Nesses locais, as pessoas tiram as máscaras, tomam cerveja, vinho e, com isso, falam mais, expelindo mais gotículas no ar”, diz.

O aluguel de casas em locais afastados é uma alternativa com menos riscos apontada pela médica infectologista. Tânia alerta sobre a necessidade de se buscar ambientes que não tenham sido ocupados por outros hóspedes em pelo menos duas semanas anteriores.

Segundo a plataforma Airbnb, os destinos que mais reservados para as férias de dezembro e janeiro são Ubatuba (SP), São Sebastião (SP), Riviera de São Lourenço (SP), Cabo Frio (RJ), Campos do Jordão (SP), Ipojuca (PE), Angra dos Reis (RJ), Petrópolis (RJ), Ibiúna (SP) e Sorocaba (SP).

Entre os destinos internacionais, os EUA e a maior parte da Europa continuam com as fronteiras fechadas a voos provenientes do Brasil. Apenas 11 países já permitem a entrada de brasileiros sem testes ou quarentena, entre eles Colômbia, Turquia e México.

Mas, com a alta de casos e mortes por Covid-19 no Brasil e em diversos países, a infectologista Tânia Chaves tenta frear a empolgação daqueles que já começam a fazer as malas.

Ela é enfática ao afirmar que este não é o momento para sair de casa. A médica diz, ainda, que não existem lugares totalmente seguros durante esta fase, na qual a disseminação do vírus aumenta.

Gustavo Johanson, infectologista especializado em medicina do viajante do Hospital Israelita Albert Einstein, alerta que ficar doente fora de casa pode ser ainda mais perigoso por causa da rápida evolução da doença.

Ele lembra que alguns dos destinos mais badalados do Brasil não têm infraestrutura de saúde para receber pacientes de Covid-19 que precisam ser intubados.

“Fernando de Noronha, por exemplo, não tem suporte respiratório para pacientes com casos graves. Os Lençóis Maranhenses, Pantanal e Amazônia também não têm a estrutura adequada”, afirma.

Fonte: Folha de S.Paulo