Enrique Balcazar, líder da ONG Migrant Justice, enfrenta a deportação. Ele diz que o status migratório dele foi compartilhado com o ICE através de um e-mail enviado por um funcionário do DMV (Foto: VPR)
Ativistas denunciaram que funcionários do DMV estão colaborando com as autoridades migratórias
As autoridades federais de imigração que procuram imigrantes indocumentados encontraram parceiros dispostos a colaborar nos departamentos de veículos auto motores (DMV), denunciaram ativistas. Em 12 estados e Washingtion-DC, pessoas indocumentadas ainda podem obter a carteira de motorista. A ideia é que as rodovias estão mais seguras se todos que trafegam nelas passarem num exame de direção, entretanto, o processo de obter o documento pode colocar as pessoas em risco de deportação. As informações são do National Public Radio (NPR).
Em Vermont, trabalhadores imigrantes em fazendas produtoras de leite entraram em processo de deportação depois de obterem carteiras de motorista, segundo o processo judicial apresentado pelo Migrant Justice, um grupo local de ativistas. A ação cita documentos obtidos através do acesso a arquivos públicos que revelaram que o DMV entregou nomes, fotos, registros de veículos e outras informações dos trabalhadores ao Departamento de Imigração (ICE). Em um e-mail, um trabalhador do estado passou a mensagem “nomes da fronteira ao sul” para o ICE. Já em outro e-mail, o ICE respondeu que tal funcionário do DMV deveria ser reconhecido como agente honorário.
Compartilhamento de rotina nas filiais do DMV de Vermont deveria parar conforme o acordo de 2016 com a Comissão Estadual dos Direitos Humanos. Entretanto, Lia Ernst, advogada da ACLU de Vermont, que apresentou o caso que resultou no acordo, disse que o compartilhamento continuou. Ela faz parte do grupo de advogados que apresentou a ação federal.
“O que o DMV tem compartilhado são fotos, todo o material de aplicação, chegando ao ponto de avisar quando as pessoas estão vindo para as entrevistas para que o ICE possa detê-las lá”, disse Lia.
Esse tipo de compartilhamento de informações acontece por todo o país, revelou a investigação do National Immigration Law Center. A ONG descobriu que o ICE acessa os bancos de dados nacional de carteiras de motorista e também obtém informações mais detalhadas através de relacionamentos com os funcionários do DMV.
Enrique Balcazar, trabalhador numa fazenda e líder do grupo Migrant Justice, enfrenta a deportação depois de ter sido preso pelo ICE em março de 2017. Ele disse que os arquivos revelam que ele denunciado por um funcionário do DMV em e-mails enviados ao ICE.
“Quando enviou os meus dados do DMV foram enviados ao ICE, o funcionário do DMV escreveu claramente que eu era indocumentado”, relatou.
A ação judicial do Migrant Justice alega que o ICE focalizou nos líderes da ONG com a ajuda doo DMV. Enrique disse que nos últimos 2 anos, 40 pessoas ligadas à ONG dele foram detidas pelas autoridades migratórias.
“Muitos deles já foram deportados e, em nove desses casos, nós temos evidências claras de que essas detenções foram retaliatórias, focalizando pessoas devido o envolvimento delas com o Migrant Justice”, comentou.
O Migrant Justice processou judicialmente o ICE, o Departamento de Defesa Nacional (DHS) e o DMV de Vermont, alegando que os órgão trabalharam juntos para ilegalmente focalizar, perseguir e deter trabalhadores ativistas do Migrant Justice. O grupo diz que o ICE utilizou vigilância eletrônica e um informante à paisana para monitorar, deter e deportar os membros da ONG. A ação alega que tais táticas visaram privar os trabalhadores dos direitos constitucionais deles e a liberdade de pedir algo ao governo. O processo tem o objetivo de impedir tais perseguições e monitoramento.
Os representantes do DMV não comentaram o caso e o tribunal concedeu até final de fevereiro para que seja dada uma resposta referente às alegações. Um porta-voz do ICE também evitou comentar sobre a ação judicial, embora tenha dito que o órgão não focaliza em pessoas por causa do ativismo político delas. Ele acrescentou que as prioridades são a segurança na fronteira, segurança pública e terrorismo.
O governador republicano de Vermont, Phil Scott, disse que o escritório dele está investigando a cooperação dos funcionários do DMV com o ICE. “Não era do meu conhecimento que qualquer coisa que foi enviada não deveria ter sido enviada”, disse ele. “Nós vamos verificar isso também”.
A notícia do compartilhamento preocupou ainda mais os 1.500 imigrantes que trabalham nas fazendas produtoras de leite em Vermont. Muitos desses trabalhadores são naturais do México, então, o governo mexicano visita o estado algumas vezes ao ano para renovar passaportes e emitir outros documentos. Em dezembro, o consulado móvel atendeu numa igreja em Middlebury, próximo ao centro de produção de leite no estado. Trabalhadores em todo o estado dirigem até o local, alguns deles para tirarem fotos para passaporte, enquanto outros simplesmente para rever velhos amigos e compartilhar uma pizza ou tamales caseiro.
“Você não pode viver sem carro. As pessoas vivem em carros. Sabe, você não tem uma mercearia a dois ou três minutos de distância, ou cinco minutos de distância. Você tem a 10 minutos de distância, mas dirigindo”, relatou um trabalhador indocumentado.
Fonte: Brazilian Voice