Por que Reino Unido vive risco de terceira onda de covid, apesar do sucesso na vacinação

  • Katie Wright
  • BBC News

Um homem sendo vacinado no estádio Twickenham

Crédito, PA Media

Legenda da foto,

O Twickenham Stadium, de Londres, foi transformado em um centro de vacinação por um dia, incluindo maiores de 18 anos a partir da tarde

Há sinais de que o Reino Unido esteja nos estágios iniciais de uma terceira onda de infecções por coronavírus, segundo um cientista que assessora o governo.

O professor Ravi Gupta, da Universidade de Cambridge (Inglaterra), disse que embora os novos casos sejam “relativamente baixos”, a variante indiana do vírus está contribuindo para um “crescimento exponencial”.

Ele defendeu que o fim das restrições na Inglaterra, previsto para 21 de junho, seja adiado.

O secretário do Meio Ambiente, George Eustice, disse que o governo não pode descartar um adiamento do fim das restrições.

Mas líderes empresariais alertaram que haveria um impacto negativo na economia caso haja mudança no cronograma.

Na segunda-feira (31/5), o Reino Unido registrou mais de 3 mil novas infecções por covid pelo sexto dia consecutivo.

A última vez que o país ultrapassou esse número foi em 12 de abril.

Nenhuma morte dentro de 28 dias após um teste positivo foi registrada na Inglaterra, País de Gales e Irlanda do Norte. Apenas uma morte foi registrada na Escócia.

Em entrevista à BBC, Gupta disse que o Reino Unido já está vivendo uma terceira onda de infecções e que pelo menos três quartos dos novos casos são da variante identificada na Índia.

“É claro que o número de casos está relativamente baixo no momento — todas as ondas começam com um baixo número de casos e depois há uma ‘explosão’, então o importante é que estamos vendo aqui os sinais de uma onda inicial.”

No entanto, ele disse que, com a vacinação, essa onda provavelmente vai demorar mais para surgir, em comparação com ondas anteriores.

“Pode haver uma falsa sensação de segurança por algum tempo, e essa é a nossa preocupação.”

O estágio final de reabertura, planejado para o dia 21 de junho, removeria todos os limites de quantas pessoas podem se encontrar — seja em ambientes fechados ou ao ar livre. Atualmente, há limites no número de pessoas que podem se encontrar, dependendo do país e do tipo de ambiente.

Gupta, que é membro do Grupo de Aconselhamento sobre Ameaças de Vírus Respiratórios Novos e Emergentes (Nervtag), disse que o fim das restrições em junho deve ser adiado “por algumas semanas enquanto coletamos mais informações”.

Enquanto isso, Chaand Nagpaul, presidente do conselho da Associação Médica Britânica, disse que o Reino Unido está em um “momento crucial” em sua batalha contra o vírus, e pediu aos ministros que “ajam com o máximo de cautela ao considerarem se devem prosseguir com a suspensão das restrições” em 21 de junho.

“O fim prematuro de todas as restrições legais, que resultasse em uma onda de infecções, prejudicaria os esforços de nosso serviço de saúde para lidar com o maior nível de acúmulo de atendimento que já enfrentamos”, disse ele.

“Isso também aumentaria as demandas da equipe que está exausta, tanto mental quanto fisicamente.”

Em março, quase 5 milhões de pacientes aguardavam algum tipo de cirurgia — o maior número desde que os dados começaram a ser computados.

Mais de 436 mil estão esperando há mais de um ano, segundo o NHS (o SUS britânico) — em comparação com apenas 1,6 mil antes da crise da covid.

Negócios na ‘beira do precipício’

Kate Nicholls, presidente-executiva da UK Hospitality, disse que seria “devastador” para o setor se não houver uma reabertura total em junho. Muitos bares, restaurantes e serviços de entretenimento operam atualmente com 60% da capacidade devido às regras de distanciamento social.

Ela diz que alguns negócios estão “perdendo dinheiro” e um atraso “os deixaria mais próximos da falência”.

Greg Parmley, presidente-executivo da associação comercial de música ao vivo, disse que todo o setor — de festivais a pequenos espaços — está “completamente preparado” para retornar a partir de 21 de junho, após ter ficado fechado por mais de um ano.

Ele disse que a série de eventos de teste do governo mostraram que “eventos musicais podem ser realizados com segurança, com quase nenhum impacto de covid, então não há razão para nos manter fechados por mais tempo”.

Eustice disse à BBC que o governo tem que dar um passo de cada vez.

“Não podemos descartar nada. Sabemos que esta tem sido uma pandemia difícil, uma situação dinâmica. Precisamos fazer esse julgamento algumas semanas antes”, afirmou.

“Só então veremos o impacto da última abertura que fizemos em 17 de maio”, acrescentou.

O calendário para relaxar as medidas da Covid varia em todo o Reino Unido. O governo escocês espera abolir mais restrições em 7 de junho, enquanto no País de Gales haverá uma revisão em 3 de junho. Na Irlanda do Norte, algumas medidas foram relaxadas em 24 de maio, com a próxima revisão ocorrendo em 10 de junho.

A decisão final sobre se as restrições serão suspensas na Inglaterra será tomada em 14 de junho.

Acredita-se que a variante indiana — conhecida como B.1.617.2 — se espalhe mais rapidamente do que a de Kent (a variante britânica), que foi responsável pelo aumento de casos no Reino Unido durante o inverno.

Em algumas áreas da Inglaterra — incluindo Bolton, Blackburn e Sefton, no noroeste do país, e Bedford, Chelmsford e Canterbury, no sudeste — a variante indiana está causando a maioria das infecções.

Crédito, EPA

Legenda da foto,

Pessoas fizeram fila do lado de fora do estádio de rúgbi de Twickenham, em Londres, para uma vacina contra covid

Na Inglaterra, pessoas com mais de 30 anos já podem fazer agendamento para receber a vacina.

O Twickenham Stadium, no sudoeste de Londres, foi transformado em um centro de vacinação para os moradores locais durante o dia, em uma campanha para tentar aumentar as vacinações. Os organizadores ofereceram vacinas para maiores de 18 anos durante todo o dia.

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Fonte: BBC