Não é luta de ego; é luta pela sobrevivência

Pegar um táxi ou Uber, ir ao supermercado, sair sozinha, encontrar uma pessoa que conheceu pela internet. Todas essas ações corriqueiras não deveriam ser um caminho para a morte de mulheres, mas são. No mundo em que vivemos hoje, ao menos um desses casos acontecem por dia.

A estudante Samantha Josephson, uma aluna da University of South Carolina, desapareceu na noite de 29 de março depois de entrar em um carro que pensou ser o Uber que tinha chamado. Não era. Era de Nathaniel Rowland, de 25 anos, que pegou a jovem e a matou. Por quê? Embora o suspeito tenha sido detido, ainda não está claro o motivo dele ter tirado a vida da jovem.

Por isso, quando não há motivo aparente, dizemos que a resposta é a violência gratuita. A violência que transforma crianças, adolescentes, jovens e adultos em vítimas. E a violência gratuita é ainda maior contra meninas e mulheres.

Contra dados e fatos não há argumentos. Estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que cerca de 1 em cada 3 (35%) mulheres e meninas em todo o mundo sofreram violência física ou sexual por parceiro íntimo ou violência por parceiro não sexual ao longo da vida.

Segundo a BBC, nos últimos 12 meses, 1,6 milhão de mulheres foram espancadas ou sofreram tentativa de estrangulamento no Brasil, enquanto 22 milhões (37,1%) de brasileiras passaram por algum tipo de assédio. Dentro de casa, a situação não foi necessariamente melhor. Entre os casos de violência, 42% ocorreram no ambiente doméstico. Após sofrer uma violência, mais da metade das mulheres (52%) não denunciou o agressor ou procurou ajuda.

Por que a luta?

Para a United Nations Development Program, um braço das Nações Unidas, a falta de empoderamento das mulheres é uma forma crítica de desigualdade. Embora existam muitas barreiras ao empoderamento, a violência contra mulheres e meninas (VAW, na sigla em inglês para “violence against women and girls”) é tanto uma causa quanto uma consequência da desigualdade de gênero.

O medo da violência pode impedir as mulheres de buscar educação, trabalhar ou exercer seus direitos e voz políticos. Uma pesquisa recente da Gallup mostra que, em todas as regiões do mundo, as mulheres sempre se sentem mais inseguras do que os homens.

Atualmente, 49 países ainda não possuem leis que protejam as mulheres da violência doméstica. Em 32 países, os procedimentos que as mulheres enfrentam para obter um passaporte diferem dos procedimentos dos homens. Em 18 países, as mulheres precisam da aprovação do marido para aceitar um emprego. Práticas como o casamento precoce também são difundidas, particularmente em países com baixo desenvolvimento humano, onde 39% das mulheres entre 20 e 24 anos se casaram antes de completarem 18 anos.

Apesar dos números ainda realçarem a diferença entre os gêneros, na educação primária e na participação política, por exemplo, as mulheres avançaram e conquistaram espaço. No entanto, houve inércia e estagnação em outros, como emprego, que, consequentemente, é a chave para sua independência e segurança. Só falta a humanidade entender que não é luta de ego (homem x mulher), é luta pela sobrevivência.

Referência: Artigo “Violence against women, a cause and consequence of inequality”, escrito por Selim Jahan, Diretor do Gabinete do Relatório do Desenvolvimento Humano do PNUD, publicado em novembro de 2018.

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Fonte: Gazeta News