Sem direito a auxílios dos EUA, brasileiros indocumentados pedem ajuda a consulados

Imagem ilustrativa: NYC Mayor’ Office.

Milhares de brasileiros indocumentados nos Estados Unidos estão em meio à quarentena geral e à recessão econômica e não têm direito ao auxílio de US$ 1,2 mil aprovado recentemente pelo governo americano para pessoas em situação vulnerável – nem aos R$ 600 mensais da renda básica emergencial brasileira. Sem recursos, eles apelam a consulados locais por ajuda.

Segundo o Itamaraty, há hoje cerca de 1,2 milhão de brasileiros vivendo nos EUA. Deles, entre 250 mil e 400 mil não têm autorização para isso, segundo estimativa de 2016 do Migration Policy Institute. Invisíveis aos dois sistemas de proteção social e sem qualquer renda de trabalho, já que tudo parou, eles não sabem como pagarão as contas ou comprarão comida nas próximas semanas. E temem que até mesmo pedir ajuda possa levá-los à prisão ou à deportação.

“Imigrantes, especialmente os que não tem documentação, são os mais atingidos na crise. A maioria deles trabalha no setor de serviços, que está sendo afetado tremendamente. Tudo está fechado, até os hotéis, por ordem do Estado. A renda deles diminuiu muito. O imigrante não é funcionário, é autônomo, se não trabalha, não ganha. Não têm direito ao seguro-desemprego. As pessoas ficam desesperadas”, afirmou à BBC Esther Pereira, diretora da ONG Immigrant Resource Center, sediada em Deerfield Beach, no sul da Flórida, que presta auxílio a migrantes em todo o país.

Consultado, o Itamaraty informou que não teria como consolidar os números de pedidos de ajuda de brasileiros em situação de “desvalimento” nos Estados Unidos em tempo hábil. Mas segundo a BBC News Brasil apurou, na última semana, o consulado em Boston recebeu mais de 900 pedidos de ajuda, e o número tende a aumentar conforme a quarentena se prolongue.

“Nas últimas 48 horas, mais de cem brasileiros nos procuraram em busca de auxílio financeiro: quase ninguém pagou o aluguel, muita gente com criança pequena e há semanas sem receber nenhum dinheiro”, afirma Tiago Prado, um dos líderes comunitários brasileiros na região de Boston que ajuda a organizar e encaminhar as demandas dessas pessoas para instituições de caridade e autoridades brasileiras.

Infectados e com medo

Por dividir um apartamento de três quartos com outras oito pessoas, Otávio* não conseguiria disfarçar os sintomas mesmo se quisesse. Há três semanas, começou a ter febre alta, tosse e dores de cabeça. “Tinha nevado e fazia frio.

Não estamos acostumados com esse tempo e achamos que ele tinha pego uma gripe”, conta à BBC News Brasil Fabiana*, de 32 anos, que dividia com o rapaz o apartamento em Everett, na região de Boston. Ele tinha sido infectado com o coronavírus.

Mas todos os moradores da casa só souberam disso depois que Otávio foi retirado de casa por uma ambulância, sem conseguir respirar. Há dez dias, ele está entubado e sedado na UTI de um dos hospitais do Estado de Massachusetts que atendem imigrantes indocumentados como eles.

Grávida de 5 meses, Fabiana também contraiu a doença. Ela, o marido e o filho, de 2 anos, chegaram aos EUA há quase um ano, depois de deixar para trás a oficina mecânica dele e os serviços de confeiteira dela em Vilhena, em Rondônia.

Com uma renda familiar de R$ 1,5 mil, não conseguiram visto de turismo e resolveram atravessar a fronteira do México para chegar a El Paso, no Texas, uma travessia ilegal feita por um número recorde de brasileiros no último ano: quase 20 mil, segundo estimativas.

“A gente achava que finalmente ia viver os sonhos que já tinha deixado pra trás, que a gente ia mandar dinheiro pro Brasil. Era tudo ilusão. Quem pensa que vai vir pros Estados Unidos pra passar necessidade?”, relata, em lágrimas. Ela já emagreceu 25 quilos desde a viagem, que custou US$ 15 mil dólares, apenas parcialmente pagos a um coiote – o traficante de pessoas que viabiliza a entrada irregular de migrantes pela fronteira.

Por decisão judicial, ordens de despejo estão suspensas por enquanto, e a orientação de ONGs e líderes comunitários é de que as pessoas deixem de pagar o aluguel e mantenham o dinheiro que têm em mãos para gastos com comida e remédio.

Hoje, a cada quatro infectados, um está no país: são mais de 400 mil contaminados e mais de 15 mil mortos. E o pico da epidemia, de acordo com a projeção da Casa Branca, acontecerá por volta do dia 15 de abril. Com informações da BBC.

A esteticista Adriana Maciel mora com as filhas em Boca Raton. Foto: arquivo pessoal.

Brasileiros na Flórida lutam para sobreviver durante a pandemia

O Gazeta News consultou o Consulado Geral do Brasil em Miami para saber sobre pedidos de ajuda de brasileiros indocumentados na Flórida, mas até o momento não houve retorno.

Alguns casos de brasileiros na Flórida que, indocumentados ou não, não têm direito ao seguro-desemprego ou ao auxílio do governo, foram mostrados em recentes matérias pelo Gazeta News.

Como o caso da esteticista Adriana Maciel, que mora em Boca Raton e está desempregada porque a clínica de estética em que trabalhava teve que suspender temporariamente os serviços. Ela conta com trabalhos esporádicos como ‘helper’ e ‘babysitter’ para segurar as pontas, mas que não estão aparecendo tendo em vista as ordens de isolamento social, e com ajuda de doações de igrejas.

“Ainda não juntei o suficiente pra pagar o aluguel porque quase não trabalhei neste mês de março, mas continuo na luta. Hoje terei que pegar cesta de alimentos numa igreja que conheço, pois não tenho mais como ir ao mercado. Quem trabalha com prestação de serviços não tem muito o que fazer se tiver que ficar em casa sem trabalhar”, desabafa.

Leia outros casos na matéria Sem trabalho, brasileiros na FL se reinventam para pagar as contas durante a pandemia.

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Fonte: Gazeta News