Altos fetiches e taras inconfessáveis na pornografia gourmet

Alguns leem livros, outros fazem ioga, outros ainda passam o dia todo limpando a casa porque não podem sair dela. Eu vejo pornografia. Food porn –o pornô alimentar– virou meu passatempo/vício na pandemia.

É igual pornografia comum, mas com comida em vez de corpos nus. Assim como no pornô sexual, no pornô gourmet você atiça o desejo sem consumar o ato.

Quando a fome se manifesta –ou seja, a qualquer hora–, sento-me ao computador para ver meus sites favoritos. Nominalmente, Rappi e iFood.

Ah, rapaz, quem começou a entregar! Aquela churrascaria caríssima. Vamos ver o cardápio. Cada foto tesuda, velho! Não, não, caro demais, vixe, eita. Continua caríssima. Peralá, tem um hambúrguer aqui. Não. Deixa. Não vou pagar 50 dinheiros por pão com carne moída.

E se não é aquele restaurante do Itaim, que parecia interessante, mas que eu nunca visitei porque fica no Itaim. O motoboy não traz o Itaim na mochila, presumo. Vou tentar. Burrata, azeite trufado, fonduta de grana padano, semifreddo de nutella. Lembrei agora por que eu não gosto de ir ao Itaim.

Falando em lugares que não frequento, olha aí aquele restaurante que flamba o espaguete dentro de um queijo parmesão inteiro. Cá entre nós, tenho uma certa tara por esse negócio. Nunca fui porque tenho medo de ser visto e reconhecido num lugar desses. Ê-laiá! Em casa, não tem esse risco. Mas também não tem o parmesão flamejante. Broxei.

Um segundo. Vou fazer umas coisas na cozinha e já volto.

Ah, agora sim. Gente quanto tempo faz que eu não vou a esse restaurante?? Eu adorava. Costumava almoçar lá todos os sábados, por que deixei de ir? Pô, a comida ainda parece ótima. Eita. Um macarrão de R$ 68? Um sanduíche de R$ 59? Sem fritas? Lembro agora como se fosse ontem.

Alguém olhando? Não, ufa, ok. Restaurante vegano. Será que eu curto essas paradas? Cheddar vegetal… uuugh. Frango não-frango? Calma, qual é a desse povo? Tchau, volto quando tiver a cabeça mais aberta para fetiches pesados.

Taqui. Pizza. Papai-e-mamãe. Pornográfica, mas nem tanto. Softcore. Epa, o que é essa foto, meu povo? Queijaço!! Vamos para outra pizzaria. Essa borda, hein? Ê, lá em casa! Aqui em casa? Não, obrigado, faço pizzas melhores, mais baratas e que como quentinhas, quando saem do forno.

E olha só, o chinês também migrou pro aplicativo. Tá bonito o yakissoba, hein? E não tá caro. Mas, pô. Pedir comida chinesa quando tem tanta opção de comida diferentona?

Falando nisso, o jantar está servido. Vou comer. Não, não pedi nada, não. Cozinhei. Você, por acaso, transa com a galera do PornHub?

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Fonte: Folha de S.Paulo