Populismo seria mais mecanismo corretivo que ameaça à democracia, dizem pesquisadores britânicos

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Image caption Donald Trump, um dos principais nomes do atual movimento nacional-populista, tentará a reeleição neste ano

Visto como a principal ameaça atual à democracia, o populismo pode ser, na verdade, um mecanismo para corrigir seus rumos. É o que argumentam Roger Eatwell e Matthew Goodwin, autores de livro sobre o movimento que deu ao mundo Donald Trump e o Brexit, entre outros.

Alguns “veem o populismo como uma válvula de segurança, um jeito de mostrar aos políticos que eles se tornaram distantes demais do povo. E, se esse for o caso, o populismo é, de certa maneira, mais um mecanismo corretivo da democracia do que uma ameaça a ela”, afirma Eatwell em entrevista à BBC News Brasil.

“É um sinal de alerta que mostra que os políticos não estão ouvindo o suficiente, particularmente um tipo de eleitorado mais rural, menos escolarizado, de cidades pequenas, que não se identificam com cidades sofisticadas como Londres.”

No livro National Populism: The Revolt Against Liberal Democracy (Nacional-populismo: a revolta contra a liberal democracia), os acadêmicos se debruçam sobre o movimento que, argumentam, vem se desenhando desde muito antes da crise financeira de 2008 ou da crise migratória na Europa, em 2015.

E, segundo eles, veio para ficar.

“Eu acho que estamos passando por um realinhamento político permanente, ou ao menos de longo prazo. Vamos ver esses movimentos se tornarem atores razoavelmente permanentes no cenário político, e acredito que veremos diversas formas de populismo terem um impacto considerável na política”, diz Goodwin.

Nacional-populismo é como se define o movimento populista que se situa à direita no espectro político. Além de adotar retórica voltada à maior participação popular e contrária à dominação da democracia “pelas elites”, seus integrantes defendem valores nacionalistas, como o maior controle migratório.

Para os pesquisadores, ele é, em parte, um movimento que reage à forma como a democracia liberal se desenvolveu no Ocidente. Esse sistema político se baseia na realização de eleições regulares e livres, mas também em uma série de liberdades civis, como o direito à liberdade de expressão e a igualdade perante a lei.

O que, então, deu errado?

De acordo com Eatwell, o que temos hoje é uma democracia liberal “relativamente elitista, politicamente correta, dominada por pessoas que tendem a ter maior nível de escolaridade. E elas têm uma pauta política, econômica, social (envolvendo questões como gênero e direitos LGBT) que é bastante diferente das demandas da classe trabalhadora”.

E, diante das demandas de uma parte da população que acredita ter sido “deixada para trás” pelo sistema, têm sido bem-sucedidos os líderes que conseguem unir seus interesses em uma plataforma eleitoral, a exemplo do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, que conquistou, com o seu Partido Conservador, vitória esmagadora nas eleições de dezembro de 2019 no Reino Unido.

“Johnson identificou uma fórmula eficaz, que é a inclinação à esquerda nas questões econômicas e prometer investimento maior nas comunidades que se sentem deixadas para trás, mas também mover-se para a direita na cultura, ao reformar a imigração, entregar o Brexit e lutar contra o que podemos chamar de ‘consenso liberal’. E, ao fazer isso, ele foi recompensado com uma gorda maioria”, diz Goodwin.

Estratégia semelhante deve ser adotada pelo presidente americano, que concorre à reeleição neste ano.

O livro será publicado neste ano no Brasil pela editora Record. Leia a entrevista abaixo.

BBC News Brasil – Como os senhores descreveriam o movimento nacional-populista?

Roger Eatwell – A primeira coisa que nós precisamos ressaltar é que há grandes diferenças entre os nacional-populistas, e acho que muitos dos críticos deste movimento não mencionam isso. Se você separar os países em dois grupos, naqueles que têm tradições democráticas relativamente fracas, como o Brasil, a ameaça à democracia é diferente da que existe, por exemplo, nos Estados Unidos ou no Reino Unido. Nestes lugares, cujas raízes democráticas são muito profundas, o que estamos vendo não é uma ameaça à democracia, mas à forma como ela se desenvolveu — de maneira relativamente elitista, politicamente correta, dominada por pessoas que tendem a ter maior nível de escolaridade. E elas têm uma pauta política, econômica, social (envolvendo questões como gênero e direitos LGBT) que é bastante diferente das demandas da classe trabalhadora.

BBC News Brasil – Os senhores falam sobre isso no livro, quando dizem que o movimento nacional-populista não é necessariamente antidemocrático, mas se opõe a certos aspectos da liberal democracia ocidental.

Eatwell – Sempre houve um temor, no pensamento democrático — e isso começa a aparecer na Grécia Antiga —, do poder das massas, vistas como irracionais, ignorantes, e uma defesa de que as democracias deveriam ser governadas por uma classe educada, profissional e tecnocrata. E essas ideias nunca desapareceram, elas continuaram sendo revisitadas. Depois da Revolução Francesa, no fim do século 18, houve um tremendo medo da irracionalidade das massas, e de novo nos anos 1920 e 30. Então, o que vemos na maior parte do Ocidente é uma forma de governo que tem eleições regulares, liberdade de expressão e proteção constitucional — e nesse sentido, são democracias —, mas que é dominada pelas elites. E essas elites, de certa maneira, se distanciaram do povo.

BBC News Brasil – Em parte, então, esse movimento está ligado ao fato de que as pessoas se sentem excluídas do sistema político. Acreditam que, enquanto houver democracia liberal, haverá populismo?

Eatwell – Sim, e eu acho que algumas pessoas veem o populismo como uma ameaça à democracia, e isso é mais forte em países com tradições democráticas relativamente fracas, como o Brasil e a Hungria, onde as pessoas temem que uma forma de democracia não liberal poderia surgir — na qual você tem eleições regulares, mas não tem liberdade de expressão ou o tipo de proteções constitucionais que vemos em países como Estados Unidos e Reino Unido.

Mas outros veem o populismo como uma válvula de segurança, como um jeito de mostrar aos políticos que eles se tornaram distantes demais do povo. E, se esse for o caso, o populismo é, de certa maneira, mais um mecanismo corretivo da democracia do que uma ameaça a ela. É um sinal de alerta que mostra que os políticos não estão ouvindo o suficiente, particularmente um tipo de eleitorado mais rural, menos escolarizado, de cidades pequenas, que não se identificam com cidades sofisticadas como Londres.

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Image caption Matthew Goodwin e Roger Eatwell

BBC News Brasil – O livro menciona quatro grandes razões para o movimento nacional-populista atual, os quatro “D”. Como explicá-los?

Eatwell – Sabemos que há diferenças de país para país, e isso é algo que os historiadores, especialmente, gostam de ressaltar: há fatores e acontecimentos específicos. Mas nosso ponto principal era abordar o que chamados dos quatro ‘Ds’ [Distrust, Destruction, Deprivation e Dealigment, em inglês; na tradução livre: desconfiança, destruição, privação e desalinhamento] que acreditamos estar profundamente enraizados e que surgiram muito antes da crise migratória na Europa, em 2015, ou da Grande Recessão de 2008.

Primeiro, uma desconfiança com relação aos políticos, a sensação de que eles são distantes, não escutam e, em alguns países, certamente estão envolvidos com a corrupção. Esse sentimento é especialmente forte entre os eleitores menos escolarizados, que vivem em cidades pequenas ou rurais — se você olhar para esses lugares nos Estados Unidos, por exemplo, são pessoas geralmente pobres, muito religiosas e que não costumam se identificar com os centros urbanos de sofisticação e progresso, como São Francisco e Nova York. Então é uma desconfiança da classe política em geral, não apenas de alguns partidos, da direita ou da esquerda. Tende a ser um ataque geral à classe, o que permite que surjam novos nomes, como Donald Trump ou Nigel Farage [líder do Partido do Brexit], que vieram de fora do sistema político.

Depois, temos destruição, um senso duplo dela. Primeiro, a destruição da identidade e do orgulho nacionais: as pessoas sentem que é vergonhoso ter um senso de patriotismo sobre os valores americanos ou britânicos. Mas não é apenas isso, é também algo que afeta as comunidades locais, algo sentido especialmente pelas classes mais baixas, que tinham empregos bem pagos e seguros em grandes fábricas, por exemplo, que agora desapareceram. É uma sensação de pertencimento a uma nação e a uma comunidade que está sendo desafiada pela rápida mudança econômica e, em alguns países, pela imigração.

O terceiro fator é a privação. E neste caso, não se trata de privação absoluta, de pessoas que são realmente muito pobres, mas de uma privação mais relativa. São pessoas que sentem que estão perdendo espaço na sociedade, em comparação com os outros, e que têm medo do futuro. Nos EUA, eles falam muito sobre o Sonho Americano. Bem, em 2016, apenas 24% dos americanos disseram acreditar nele (a saber: acreditar que seus filhos teriam uma vida melhor que a deles) — entre os apoiados de Trump, só 11%. Nos anos 1950, se consideramos os eleitores brancos, ao menos, o índice era de 89%. Então há esse pessimismo com o futuro, amplamente relacionado, embora não exclusivamente, ao neoliberalismo, à forma como o comércio com a China e outros países prejudicou as fábricas tradicionais nos EUA, no Reino Unido. E esses empregos seguros, bem pagos, sumiram.

E aí vem o desalinhamento, a maneira pela qual as pessoas vêm se distanciado gradualmente dos partidos tradicionais. Nos anos 1950, provavelmente o pico do sistema político moderno em democracias estáveis, cerca de 90% dos eleitores votavam sempre da mesma maneira. Agora, o número de pessoas que se identificam como democratas ou republicanos [nos EUA], conservadores ou trabalhistas [no Reino Unido], caiu drasticamente. Há muito mais volatilidade, mais disposição em mudar o voto, de um partido para o outro.

No Reino Unido, por exemplo, isso é um fator crucial para o Boris Johnson: ele e os conservadores tiveram uma grande vitória em dezembro, puxada especialmente por votos da classe trabalhadora — 40% deles votaram no partido, o maior índice da história. Mas o primeiro-ministro tem que entregar algo, especialmente para aqueles que querem ver um Brexit próspero, ou esses eleitores vão voltar a apoiar outros partidos.

BBC News Brasil – Uma das ideias contestadas no livro é a de que os apoiadores de Trump e outros líderes populistas são todos homens brancos, velhos e raivosos. Quem são eles, então?

Eatwell – O que vimos em países como os Estados Unidos e o Reino Unido é que os populistas conseguiram penetrar distritos eleitorais de renda mais baixa. Eles têm apelo entre a classe trabalhadora. Se olharmos para a Europa, na França, por exemplo, a Frente Nacional, de Marine Le Pen, está bastante inserida no eleitorado jovem. Em parte porque os jovens temem pelo futuro, acham que não vão conseguir empregos estáveis. E Marine Le Pen não apenas é uma mulher divorciada, que vive com seu parceiro, mas também se cercou de assessores gays e se voltou aos votos de mulheres e da população LGBT.

Ou seja, o apoio a esses partidos varia de país para país, depende da posição do líder do partido, depende de questões específicas de cada país. Mas, certamente retratar o eleitor simplesmente como um homem branco, velho e raivoso é muito enganoso, e parte da injustiça típica de comentaristas liberais [no sentido americano da palavra, o oposto de conservadores], que não querem realmente entender esses partidos. Eles querem classificá-los como racistas, fascistas, o que claro, em alguns casos, é verdade.

BBC News Brasil – O Brexit, a eleição de Trump e muitos outros resultados eleitorais nos últimos anos causaram grande surpresa no mundo político. Mais do que isso, as pessoas não conseguiam acreditar que seus apoiadores realmente queriam o que estava sendo propagado durante as campanhas. As pessoas querem o que vendem os populistas? Ou só estão atrás de mudança?

Matthew Goodwin – As pessoas que votaram pelo Brexit estavam fundamentalmente infelizes com o acerto existente e queriam ver os cenários políticos e econômicos serem radicalmente chacoalhados. E, em última instância, votar pela saída da União Europeia não era apenas sobre a relação do Reino Unido com a Europa, era a expressão de um desejo mais profundo de mudar o contrato social. Eu acho que, de maneira geral, o que vimos é um pedido de mudança, e a questão agora é como as pessoas responderão a esse pedido. Da mesma forma que Donald Trump também representa um clamor por mudança, e agora o que precisamos ver é como os liberais vão responder a isso e quais concessões estão dispostos a fazer. É isso que continuaremos a debater nos próximos anos.

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Image caption Boris Johnson conduziu o Partido Conservador à vitória no Reino Unido em 2019 ao entender a ‘nova lei tácita da política’

BBC News Brasil – Nesse contexto, temos a eleição presidencial americana neste ano. O que mudou de 2016 para agora? O que podemos esperar do pleito?

Goodwin – Vamos ver o populismo econômico enfrentar o populismo cultural. Devemos ter um candidato democrata como [os senadores] Elizabeth Warren ou Bernie Sanders apelando muito para pessoas que concordam com medidas populistas na economia. A questão é que teremos Donald Trump falando tanto com esses eleitores — ou seja, propagando um discurso protecionista, contra a China, tentando ajudar as comunidades do “cinturão da ferrugem” [região que engloba áreas no nordeste e no centro dos Estados Unidos, frequentemente relacionadas ao declínio industrial] —, como com aqueles que querem ver medidas culturais, ao dizer que vai continuar endurecendoas políticas contra a imigração, que protegerá os interesses culturais dos EUA, não apenas econômicos.

Isso coloca os democratas numa posição bastante difícil, porque sabemos que há muitos eleitores na categoria que chamamos de cross-pressured [aqueles com preferências à esquerda em alguns temas e à direita em outros]: querem reformas econômicas, mas também reformas culturais. Eles desejam que os mercados sejam mais justos, que os ricos paguem mais impostos, que as empresas sejam mais transparentes. Ao mesmo tempo, esperam que a imigração seja mais controlada e rejeitam uma mudança demográfica sem fim. E acho que, como consequência, isso dá a Trump uma vantagem inerente em relação ao populista econômico clássico. E, se você olhar para a Europa, essa categoria não vem sendo bem-sucedida desde a crise — pense, por exemplo, no Syriza, na Grécia, ou em Jeremy Corbyn [líder do Partido Trabalhista] no Reino Unido.

Eatwell – Trump ficaria particularmente feliz se os democratas escolherem um candidato da ala mais à esquerda do partido, porque ele poderia adotar uma posição de ataque — seria uma campanha bastante negativa. O que veremos nos EUA é o presidente reivindicando alguns feitos, especialmente econômicos, mas também buscando um oponente democrata que possa atacar, seja pelo ‘socialismo’, seja pela posição permissiva em relação à imigração. E ele espera conseguir ganhar confortavelmente com menos de 50% dos votos.

BBC News Brasil – Apostariam em um resultado?

Eatwell – Se eu tivesse que apostar, diria que o Trump ganha, mas há muitos fatores desconhecidos ainda. Não sabemos, por exemplo, quem os democratas vão escolher como candidato, nem como o cenário internacional vai se desenvolver até lá.

BBC News Brasil – Professor Goodwin, o senhor disse que Boris Johnson ganhou a eleição no Reino Unido ao tirar proveito da “nova lei tácita” da política: se posicionar um pouco à esquerda na economia e um pouco à direita em questões culturais e identitárias. Já vê isso acontecendo em outros países?

Goodwin – Acho que é cedo para dizer, mas o que vimos no Brexit foi o Partido Conservador reagindo à polarização na nossa sociedade de maneira bastante efetiva. A grande questão para os partidos tradicionais agora é como navegar essa divisão entre liberais e conservadores, e como unir a classe trabalhadora e a classe média. Boris Johnson identificou uma fórmula eficaz, que é a inclinação à esquerda nas questões econômicas e prometer investimento maior nas comunidades que se sentem deixadas para trás, mas também mover-se para a direita na cultura, ao reformar a imigração, entregar o Brexit e lutar contra o que podemos chamar de ‘consenso liberal’. E, ao fazer isso, ele foi recompensado com uma gorda maioria.

E então eu acho que, de forma geral, isso poderia ser o começo de uma nova fórmula para, por exemplo, partidos de centro-direita na Europa, talvez na América do Norte e até em partes da América Latina. Nesse sentido, estamos vendo Donald Trump desenvolver uma mensagem parecida, [o premiê] Sebastian Kurz, na Áustria, trabalhando num tipo mais interessante de política conservadora. Considerando isso, eu diria que os conservadores parecem estar respondendo melhor à polarização do que os liberais.

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BBC News Brasil – Os senhores dizem que o nacional-populismo já teve um impacto no sistema político ocidental ao fazê-lo se mover um pouco mais para a direita. Como exatamente isso acontece?

Goodwin – De um lado, há a opinião pública, que se posiciona um pouco mais à direita nessas questões do que as pessoas imaginam, e, a partir daí, a opinião pública está levando às mudanças políticas a que estamos assistindo. Ou seja, populistas e ultraconservadores sendo mais bem-sucedidos, mas também partidos tradicionais se movendo mais para a direita, adotando muitas das políticas e da linguagem utilizada pelos populistas. Boris Johnson fez isso com as políticas de Nigel Farage, os partidos tradicionais na Suécia assumiram posições mais duras na crise dos refugiados, e até a centro-esquerda na Dinamarca decidiu tomar medidas contra a imigração. Tudo isso parece uma tentativa de despachar os populistas.

Então o que estamos vendo é um efeito direto, pessoas votando nos populistas, mas também um efeito indireto: populistas influenciando as posições de partidos tradicionais.

BBC News Brasil – Como o presidente Jair Bolsonaro, no Brasil, se relaciona com esse fenômeno?

Eatwell – Acho que há semelhanças, mas também diferenças claras. Há uma tendência, entre os nacional-populistas, de produzir líderes que são muito autoritários — ao menos pelos padrões democráticos —, eles tendem a ser muito provocadores, não querem construir coalizões, costumam usar redes sociais e novos meios de comunicação. Isso parece se aplicar a Bolsonaro e Trump, por exemplo. Não quer dizer que todos os populistas tenham esse estilo, mas há uma tendência de produzir esses ‘machões’, porque as pessoas estão buscando líderes fortes, agressivos, que não têm interesse em ceder.

Goodwin – Acho que há poucos na Europa acompanhando Bolsonaro de perto, mas creio que ele seja visto como parte dessa reação contra os políticos tradicionais, uma preferência por um tipo de líder mais linha dura. Mas a base eleitoral do Bolsonaro é bastante diferente do que vimos na Europa, ele não parece ser tão dependente desses eleitores que se sentem deixados para trás como são os populistas na Europa, ele tem uma coalização de apoio mais ampla.

BBC News Brasil – Os senhores falam sobre uma era de “pós-populismo”, ou seja, o momento em que as pessoas serão capazes de avaliar se votar em populistas fez diferença nas suas vidas — ou se eles realmente se importam com isso. Estamos nos aproximando dela?

Goodwin – Eu acho que estamos passando por um realinhamento político permanente, ou ao menos de longo prazo. Vamos ver esses movimentos tornarem-se atores razoavelmente permanentes no cenário político, e acredito que veremos diversas formas de populismo terem um impacto considerável na política.

Uma das narrativas dominantes é que o que está acontecendo agora é só uma resposta à crise financeira, ou à crise dos refugiados na Europa, ou à austeridade na crise fiscal. Está claro, porém, que as raízes do populismo são muito mais profundas, e que as tendências que as alimentam já vinham se desenhando há bastante tempo. E nosso argumento é que esses movimentos estão aqui para ficar — ou, ao menos, os grupos de eleitores que são bastante leais a esses partidos e perceberam que precisam deles para conseguir o tipo de mudança política que querem ver.

Fonte: BBC