Por que fundador do Twitter diz que banimento de Trump foi ‘correto, mas perigoso’

  • James Clayton
  • BBC

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Jack Dorsey, cofundador do Twitter, disse que não comemora, tampouco se orgulha da proibição contra Trump

O cofundador e presidente-executivo do Twitter, Jack Dorsey, afirmou na quarta-feira (13/01) que fechar a conta do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, era a coisa certa a fazer, embora também tenha destacado que isso abre um “precedente perigoso”.

Dorsey manifestou tristeza em relação ao que descreveu como as “circunstâncias extraordinárias e insustentáveis” que envolveram a suspensão de Trump da rede social.

Ele disse ainda que a proibição foi em parte uma falha do Twitter, que não fez o suficiente para promover uma “conversa saudável” em suas plataformas.

O Twitter recebeu elogios e críticas por encerrar a conta de Trump na sexta-feira passada, dias depois de seguidores do mandatário terem invadido o Capitólio dos Estados Unidos, onde os legisladores estavam certificando a vitória de Joe Biden nas eleições presidenciais de novembro de 2020.

Os críticos acusam Trump de incitar o ataque à sede do Congresso americano — e na última quarta-feira, a Câmara dos Representantes aprovou pela segunda vez em apenas 13 meses um impeachment contra ele por “incitação à insurreição”. Agora, o presidente enfrentará um julgamento político no Senado.

A chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, se manifestaram contra a medida do Twitter.

Precedente ‘perigoso’

Em uma série de postagens no Twitter na noite de quarta-feira, Dorsey disse que não celebrava, tampouco se orgulhava de banir Trump.

Ele reiterou que a remoção do presidente do Twitter foi feita após enviar a ele “uma advertência clara”.

“Tomamos uma decisão com as melhores informações que tínhamos com base nas ameaças à segurança física tanto dentro quanto fora do Twitter”, escreveu.

“O dano offline como resultado do discurso online é comprovadamente real, e é principalmente o que impulsiona nossa política.”

O executivo reconheceu, no entanto, que a medida teria consequências para uma internet aberta e gratuita.

“Ter que tomar essas ações fragmenta a conversa pública. Nos dividem. Limitam o potencial de esclarecimento, redenção e aprendizado. E estabelece um precedente que acredito ser perigoso: o poder que um indivíduo ou empresa tem sobre uma parte da conversa pública global”, sinalizou.

“Este momento pode exigir essa dinâmica, mas no longo prazo será destrutiva para os nobres propósitos e ideais da internet aberta.”

Dorsey também comentou as críticas de que apenas um punhado de empresários de tecnologia pode tomar decisões sobre quem tem e quem não tem voz na internet e sobre as acusações de censura.

“Uma empresa que toma a decisão de moderar a si mesma é diferente de um governo que tira o acesso (de alguém), embora possa parecer o mesmo”, declarou.

Proibição em outras redes

O Facebook e o YouTube também tomaram medidas para silenciar temporariamente o presidente, enquanto a Amazon fechou a conta do Parler — um aplicativo amplamente usado por apoiadores de Trump — na Amazon Web Services, seu serviço de armazenamento e processamento de dados na nuvem.

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O Twitter cancelou a conta de Trump na sexta-feira passada, dias depois da invasão do Capitólio

O Snapchat também anunciou que Trump será expulso permanentemente de sua plataforma.

Esta rede já o havia suspendido por tempo indeterminado, mas na quarta-feira informou que “em prol da segurança pública e com base em suas tentativas de espalhar desinformação, incitar ao ódio e incitar a violência” vai cancelar definitivamente sua conta.

Alguns criticaram a decisão das redes sociais de remover contas, publicações e tuítes, alegando que violaria os direitos da Primeira Emenda (liberdade de expressão) da Constituição dos Estados Unidos.

No entanto, grandes companhias de tecnologia costumam argumentar que, por serem empresas privadas e não atores estatais, essa lei não se aplica quando moderam suas plataformas.

Na segunda-feira, a porta-voz da chanceler alemã disse que considerou a proibição das redes sociais “problemática”.

“Não me agrada que ninguém seja censurado”, afirmou, por sua vez, o presidente mexicano.

Já o presidente eleito dos EUA, Joe Biden, disse que quer que empresas como Facebook e Twitter tomem mais medidas para acabar com o discurso de ódio e as notícias falsas.

Biden havia dito anteriormente que deseja revogar a chamada Seção 230, uma lei que protege as redes sociais de serem processadas por coisas que os usuários postam em suas plataformas.

Não está claro como Biden deseja regulamentar as gigantes da tecnologia, embora isso seja provavelmente um de seus objetivos legislativos.

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Fonte: BBC