Quem é Carrie Lam, líder de Hong Kong que recuou de projeto de extradição após onda de protestos

Hong Kong Chief Executive Carrie Lam speaks during a press conference at the government headquarters in Hong Kong on June 15, 2019.Direito de imagem AFP
Image caption Carrie Lam anuncia suspensão de proposta que permitiria extradição para China continental

Após uma onda de protestos que levou mais de 1 milhão de pessoas às ruas, a diretora-executiva de Hong Kong, Carrie Lam, decidiu recuar do planos de permitir extradições para a China continental.

Este é seu primeiro grande teste de fogo desde que foi eleita em 2017, sendo a primeira líder mulher da cidade. À época, ela não favorita ao cargo.

Mas ela acabou chancelada por Pequim – e por aqueles que decidem quem lidera o território. O líder local é eleito por um comitê de 1.200 pessoas que supostamente representam a cidade.

O comitê é composto por membros de vários setores, profissões, trabalhadores e grupos de assistência social, além de organizações distritais, que representam menos de 0,1% da população da cidade.

Ela recebeu 777 votos, cifra que desde então se tornou um de seus apelidos em Hong Kong.

Lam afirmou em outra ocasião à BBC: “Eu não acho que seja uma questão de número. A questão é sobre legitimidade. O comitê eleitoral é formado por um grande eleitorado que representa amplamente todos os setores da sociedade em Hong Kong”.

Mas quem é Carrie Lam, líder pressionada tanto por Pequim, que pode usar a futura brecha para atingir críticos e dissidentes que vivem na cidade, quanto pelas milhares de pessoas que foram às ruas protestar?

Longa carreira no funcionalismo

Nascida em Hong Kong, Lam é oriunda da classe trabalhadora. Ela se juntou ao funcionalismo em 1980 depois de se formar na Universidade de Hong Kong.

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Image caption Mais de 1 milhão de pessoas foram às ruas protestaram contra proposta considerada um risco aos direitos humanos

Durante a carreira, ela foi enviada para a Universidade de Cambridge, no Reino Unido, para um curso de um ano em Estudos de Desenvolvimento.

Em 2004, foi nomeada diretora-geral do Escritório de Comércio de Economia de Hong Kong em Londres. É a representação oficial da cidade no Reino Unido.

Em 2006, ela retornou a Hong Kong e ascendeu na carreira. Lam desistiu no ano seguinte de sua nacionalidade britânica para atuar como secretária para o desenvolvimento.

Seu marido e dois filhos mantiveram seus passaportes britânicos. O marido de Lam reside no Reino Unido junto com um de seus filhos. O outro vive na China continental.

Movimento dos Guarda-Chuvas

Lam era a secretária-chefe de Administração durante os protestos pró-democracia em 2014 em Hong Kong, sob o comando do então executivo-chefe Leung Chun-ying.

Manifestantes ocuparam áreas-chave por 79 dias.

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Image caption Carrie Lam teve conversas com líderes de atos pró-democracia em 2014, mas rejeitou mudanças no sistema de escolha eleitoral

Depois que os protestos terminaram, ela conversou com cinco líderes estudantis acerca das críticas ao modelo de escolha adotado pela China para os candidatos às eleições.

Mas Lam rejeitou as exigências afirmando que “temo que só possamos concordar em discordar”.

Hong Kong foi uma colônia britânica por mais de 150 anos. Em 1984, os governos britânico e chinês chegaram a um acordo que Hong Kong retornaria à China em 1997 sob o princípio de “um país, dois sistemas”. Ou seja, Hong Kong gozaria de “um alto grau de autonomia, exceto em assuntos estrangeiros e de defesa” por 50 anos.

Como resultado, Hong Kong tem seu próprio sistema legal e fronteiras, e direitos como liberdade de reunião e liberdade de expressão são protegidos.

A cidade ainda desfruta de liberdades não vistas na China continental – mas há quem diga que elas estão em declínio.

Grupos de direitos humanos acusaram a China de interferir em Hong Kong, citando exemplos como decisões legais que desqualificaram legisladores pró-democracia. Eles também se preocupam com o desaparecimento de cinco livreiros de Hong Kong e um magnata que depois ficou detido na China.

Embora Hong Kong seja parte da China, a maioria dos cidadãos locais não se identifica como chinesa.

Pesquisas da Universidade de Hong Kong mostram que a maior parte das pessoas se identifica como “Hong Kongers” – e apenas 15% se chamariam “chineses”.

A primeira líder do gênero feminino

Lam foi empossada no cargo pelo presidente chinês Xi Jinping em 1º de julho de 2017, o 20º aniversário do retorno de Hong Kong a Pequim.

Em seu discurso, ela disse: “Hong Kong, nossa casa está sofrendo de uma divisão bastante séria e acumulou muitas frustrações. Minha prioridade será curar a divisão”.

No entanto, sua trajetória foi abalada projeto de lei de extradição.

Lam argumenta que a proposta é necessária para proteger a cidade contra os criminosos. Isso ocorreu depois de um caso de grande repercussão, em que um homem de Hong Kong foi acusado de assassinar sua namorada em férias em Taiwan, mas não pôde ser extraditado.

Mas muitos acham que a lei poderia ser usada para atacar adversários políticos do Estado chinês.

Mais de 1 milhão de pessoas marcharam nas ruas de Hong Kong no último domingo.

Em um discurso televisionado cheio de lágrimas, Lam rejeitou as acusações de que ela havia entregue Hong Kong.

“Eu cresci aqui com todo o povo de Hong Kong, meu amor por este lugar me levou a fazer muitos sacrifícios pessoais”, disse.

Não há previsão para o assunto ser retomado, mas manifestantes cobram que a proposta seja enterrada definitivamente.

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Fonte: BBC