Trump: presidente é acusado de instruir ex-advogado a mentir em depoimento ao Congresso

Donald Trump em coletiva de imprensa em 14 de janeiroDireito de imagem Getty Images
Image caption Segundo reportagem do Buzzfeed News, Trump teria instruído seu advogado a mentir

A mais longa paralisação de governo dos EUA da história não é o único problema com o qual o presidente Donald Trump tem de lidar no momento.

Uma reportagem do Buzzfeed News publicada nesta quinta-feira afirma que Trump teria instruído seu ex-advogado pessoal, Michel Cohen, a mentir em depoimento ao Congresso sobre os planos de construir uma Trump Tower em Moscou, capital da Rússia.

Há quase dois anos, o procurador especial Robert Mueller está investigando a suposta interferência do governo russo na campanha que elegeu Trump em 2016.

Cohen também colaborou com esse inquérito, afirmando recentemente que as negociações sobre o empreendimento multimilionário proposto por Trump continuaram até a época das eleições presidenciais e previam contatos com autoridades russas. Cohen foi condenado pelo caso no mês passado.

Trump, no entanto, argumenta que o advogado mentiu sobre o projeto de Moscou para “reduzir seu tempo de prisão”.

Já os políticos democratas dizem que investigarão as alegações do veículo.

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Image caption Mueller está conduzindo uma investigação sobre a suposta interferência russa na eleição presidencial

O que diz a reportagem?

De acordo com o Buzzfeed, as acusações são baseadas em depoimentos de dois agentes policiais não identificados que estão investigando o caso.

Segundo o artigo, Trump recebeu dez atualizações de Cohen sobre um plano para construir o empreendimento em Moscou no mesmo período em que Trump negava ter ligações comerciais com a Rússia.

A filha de Trump, Ivanka, e seu filho, Donald Jr., também teriam recebido essas informações, segundo o Buzzfeed.

O procurador especial Robert Mueller, que está conduzindo uma investigação federal sobre a suposta interferência da Rússia na eleição presidencial dos EUA e sobre se figuras da campanha de Trump foram cúmplices a esse movimento, já havia revelado que Cohen mentiu sobre a data em que o projeto da Trump Tower de Moscou terminou.

Em depoimento ao Congresso americano, Cohen disse que as conversas sobre o projeto aconteceram entre setembro de 2015 e janeiro de 2016, mas documentos de queixa-crime dizem que elas duraram até junho.

Cohen disse que o plano havia sido interrompido mais cedo na tentativa de “minimizar as ligações entre o Projeto de Moscou e o Indivíduo 1” durante a campanha eleitoral. O indivíduo 1 foi previamente identificado por Cohen como Trump.

O Buzzfeed disse que Cohen contou aos investigadores que o presidente americano “pessoalmente o instruiu a mentir” sobre a data em que as negociações terminaram “a fim de encobrir o envolvimento de Trump”.

A reportagem diz ainda que Mueller tinha outras provas, incluindo entrevistas com outros funcionários da organização Trump e e-mails internos da empresa, para corroborar a versão de Cohen.

Segundo o Buzzfeed, Trump supostamente encorajou Cohen a planejar uma viagem para se encontrar com o presidente russo Vladimir Putin durante a campanha.

Cohen foi condenado a 36 meses de prisão em dezembro depois que ele se declarou culpado de mentir ao Congresso sobre a Trump Tower. Ele também admitiu violações de financiamento de campanha e evasão fiscal.

No tribunal, ele disse que sua “fraqueza era uma lealdade cega a Donald Trump”, cujos “atos sujos” ele se sentiu obrigado a encobrir.

Para o repórter Anthony Zurcher, que cobre política na BBC News, se o artigo do Buzzfeed tiver substância, ele “pode apresentar um argumento forte para a obstrução presidencial da Justiça”.

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Image caption Joaquin Castro, representante do Texas na Câmara, disse que se história do Buzzfeed for verdadeira, Trump deve renunciar

Qual foi a reação dos democratas?

O comitê de inteligência da Câmara dos Representantes (a Câmara dos Deputados dos EUA) investigará as alegações, diz seu novo presidente, o democrata Adam Schiff.

Ele disse que tais alegações contra Trump estão “entre as mais graves até o momento”.

Alguns democratas reagiram pedindo o impeachment do presidente.

O congressista Ted Lieu tuitou que a história estabeleceu um “caso claro de obstrução de justiça, um crime”.

Já Joaquin Castro, representante do Texas na Câmara, disse que se a história for verdadeira “o presidente Trump deve renunciar ou sofrer um impeachment”.

“Os sussurros calmos sobre um impeachment entre os democratas da Câmara estão ficando mais altos”, diz o repórter Anthony Zurcher, da BBC News. “A presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, foi capaz de conter esse sentimento até agora, mas ela pode ser incapaz de – ou não querer – mantê-lo abafado por muito mais tempo.”

E os republicanos?

A resposta do presidente no Twitter replicou o comentário de um repórter da Fox News de que Cohen havia sido “condenado por perjúrio e fraude”, embora o presidente tenha acrescentado que ele mentiu “para reduzir seu tempo de prisão”.

O atual advogado pessoal do presidente, Rudy Giuliani, divulgou um comunicado nesta sexta-feira dizendo que “qualquer sugestão de qualquer fonte de que o presidente tenha aconselhado Michael Cohen a mentir é categoricamente falsa”.

O vice-secretário de imprensa da Casa Branca, Hogan Gidley, disse à Fox News que era “ridículo” dar credibilidade ao Buzzfeed, dizendo que sua história “não confirmada” era o tipo de notícia falsa com a qual o presidente e sua equipe lidam diariamente. Ele disse que Cohen tinha “provado ser um mentiroso”.

O que está acontecendo com a investigação sobre a Rússia?

A investigação de Mueller ainda está em andamento e não está claro quando ele apresentará suas descobertas ao procurador-geral. Cabe ao procurador-geral notificar o Congresso e decidir se o relatório será divulgado publicamente.

O indicado do Presidente Trump ao cargo, que equilave ao de ministro da Justiça, William Barr, está atualmente passando pelo processo de confirmação no Congresso. Ele disse que divulgará o máximo possível do relatório de Mueller, mas não prometeu publicar tudo.

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Image caption Cohen foi condenado a 36 meses de prisão no mês passado

Até agora, a investigação de Mueller levou a acusações contra mais de duas dúzias de russos, bem como a várias pessoas ligadas ao próprio Trump, incluindo seu ex-assessor de segurança nacional e o ex-presidente de sua campanha eleitoral.

Sabe-se que alguns deles, incluindo Cohen, cooperam com o inquérito do procurador-especial.

Cohen deve se entregar às autoridades em 6 de março, mas antes disso, ele concordou em testemunhar perante o Comitê de Supervisão da Câmara dos Representantes em fevereiro.


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Fonte: BBC