Com 253 tiroteios em massa esse ano, EUA analisam mais rigor para compra de armas

Familiares fazem vigília em local do massacre em El Paso. Foto: Callaghan O’Hare -Reuters.

Os Estados Unidos tiveram 253 tiroteios em massa só neste ano, uma média de 1,15 por dia (cálculo feito até 5 de agosto), segundo o site Gun Violence Archive – que compila dados de autoridades policiais como o FBI desde 2013 e que considera como “tiroteio em massa” todo aquele em que ao menos quatro vítimas foram feridas ou mortas — sem contar o autor dos disparos.

Em 2018 foram 340 ataques do tipo registrados. Já em 2017 e 2016, o grupo registrou 346 e 382 eventos desse tipo, segundo o site.
Após os dois últimos ataques em massa ocorridos nos dias 3 e 4, no Texas e em Ohio, respectivamente, que causaram a morte de 31 pessoas, o presidente Donald Trump pediu aos senadores e deputados que estudem um projeto de lei que exija “fortes verificações de antecedentes” para a compra de armas o país, mas disse que o projeto deve estar ligado à “reforma da imigração”.

Pelo twitter, Trump disse que os democratas e republicanos “devem se unir” pelo projeto. Mas exigiu “casar esta legislação com uma reforma de imigração desesperadamente necessária”. Ele não deu detalhes de como as leis seriam “emparelhadas” e nem os atuais legisladores disseram como seria.

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Além disso, em pronunciamento feito na Casa Branca após os massacres, Trump disse que os americanos precisam condenar “racismo, intolerância e supremacismo branco”.” Essas são ideologias sinistras que precisam ser derrotadas”, afirmou o presidente.

Durante sua fala, ele disse que é preciso captar sinais de pessoas que são potencialmente criminosas e evitar vender armas para elas e também pediu que as autoridades investiguem mais os “cantos escuros” da internet. “Precisamos reconhecer que a internet deu espaço para a radicalização”, acrescentou.

Porém, reações internacionais descreveram a epidemia de disparos em massa nos EUA como violência em um país em guerra consigo mesmo. “O terrorismo nacionalista branco”. “A nova guerra civil americana.” “Os terroristas domésticos” devastam os EUA. ” As manchetes de Sydney a Paris descreveram o derramamento de sangue como a América lutando contra ela mesma.

EUA em número de armas

Os Estados Unidos concentravam 46% das 857 milhões de armas em mãos de civis em todo o mundo em 2017, segundo a Small Arms Survey (SAS). “A população americana comum compra aproximadamente 14 milhões de armas novas e importadas a cada ano”, contabilizou Aaron Karp, autor da pesquisa do SAS.

Os Estados Unidos são um dos poucos países onde o direito de portar armas é protegido pela Constituição. De acordo com o Pew Research Center, o fator proteção está no topo da lista de razões dadas para ter uma arma de fogo, votada por 67% dos donos de armas. Caça (38%), tiro esportivo (30%) e coleta de armas (13%) aparecem em seguida.

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A maioria (44%) dos entrevistados da Pew afirmou que conhece pessoalmente alguém que foi baleado, acidentalmente ou intencionalmente e a maioria (57%) diz que as leis sobre armas devem ser mais rigorosas.

Segundo Brady, um grupo norte-americano de prevenção da violência armada, 310 pessoas são mortas nos Estados Unidos todos os dias. Entre esses, 100 são mortos e outros 61 morrem de suicídio.

Leis e antecedentes criminais

No início de setembro, 10 novas leis que facilitarão a posse de armas em locais de culto, como igrejas, mesquitas e sinagogas, prédios de apartamentos, lares adotivos e jardins de escolas públicas entrarão em vigor no Texas. As leis foram aprovadas na última sessão do Legislativo estadual, que foi concluída em junho.

Se o National Instant Criminal Background Check (NICS) não apresentar nenhum registro e o indivíduo não mostrar sinais evidentes de instabilidade mental, há pouco que um revendedor possa legalmente fazer para interromper a venda.

Na Flórida, o senador Marco Rubio pediu ao presidente do Comitê Judiciário do Senado que aceite a legislação nacional “red flag” – formalmente conhecida como “ordens de proteção contra riscos extremos”, que permite ao governo apreender armas de fogo de pessoas consideradas perigosas para si ou para terceiros.

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Rubio apresentou uma versão do Senado em 2018, mas nenhuma ação foi tomada. Ele a apresentou novamente em janeiro, e o Comitê Judiciário do Senado realizou uma audiência sobre as leis em março. Mas até então, nada foi decidido.

A lei “red flag” em vigor na Flórida permite que apenas policiais solicitem no tribunal para remover as armas de fogo de uma pessoa considerada perigosa. A alteração na legislação, chamada ‘Berman-Stark’, propõe que mães, pais, avós, padrastos, irmãos, cônjuges e guardiões também tenham autoridade para fazer o pedido do tribunal.

Massacre em El Paso teve motivação anti-imigrante?

22 pessoas foram mortas e outras 24 ficaram feridas depois que Patrick Crusius, de 21 anos, abriu fogo em uma loja da rede Walmart em El Paso, no Texas, na manhã de sábado, 3. As autoridades o prenderam ainda no local.

O tiroteio está sendo tratado como um ato de terrorismo doméstico, segundo a polícia de El Paso. O atirador teria escrito e publicado um manifesto de extrema direita e anti-imigrante pouco antes de realizar o ataque. A declaração defendia a supremacia branca, denunciava a imigração e elogiava o atirador que matou 51 fiéis muçulmanos em março nas mesquitas da Nova Zelândia.

El Paso fica bem na fronteira com o México e tem 80% de sua população de latinos. O manifesto sugeriu que ela foi escolhida intencionalmente por esse motivo. Oito cidadãos mexicanos foram mortos e o governo mexicano chamou o ataque de “ato de terrorismo”.

A cidade diversificada tem cerca de 680.000 habitantes e mais de 23.000 pedestres atravessam de sua cidade gêmea mexicana, Ciudad Juárez, através da fronteira com El Paso para trabalhar todos os dias.

Segundo a polícia de El Paso, Crusius viajou 11 horas durante a noite de sua cidade natal de Allen, também no Texas, para El Paso, antes do ataque. De acordo com o chefe de polícia de El Paso, o rifle estilo AK-47 foi comprado legalmente.

Na terça-feira, 6, a polícia disse que Crusius não demonstrou nenhum remorso ou arrependimento desde o ataque. Conforme as leis do Texas, ele pode pegar prisão perpétua, ou, muito provavelmente, ser condenado à pena de morte.

Para comprar uma arma de fogo de um revendedor no Texas, a pessoa deve ter pelo menos 21 anos e não ter nenhuma acusação criminal pendente. A verificação de antecedentes é processada pelo sistema National Instant Criminal Background Check, que pode aprovar, atrasar ou negar uma compra.

Todavia, as compras de armas de fogo por meio de um vendedor privado no estado não estão sujeitas a uma verificação de antecedentes e o Texas não limita a quantidade de munição ou o número de armas de fogo que um cliente pode comprar de uma só vez, diz Oliver “Buck” Revell, ex-agente especial do FBI em Dallas.

Connor Betts atirou e matou nove pessoas em Dayton, Ohio. Foto: Twitter.

Massacre Ohio

Embora tenha acontecido cerca de 13 horas depois do ataque em El Paso, às 1 da manhã do domingo, 4, onde nove pessoas morreram por tiros perto de um bar em Dayton, Ohio, a motivação deste ataque não teria relação com imigrantes, mas com profundo interesse por violência, segundo a polícia.

Armado com um fuzil de alta capacidade de calibre 223 com munição, Connor Betts disparou 41 tiros em menos de 30 segundos, matando inclusive sua irmã e outras oito pessoas. Ele foi morto por policiais em patrulha 30 segundos depois de abrir fogo.

Um fato em comum entre os dois atiradores é que as armas usadas por eles foram compradas legalmente de uma loja no Texas.
Horas antes do ataque, pelo Twitter, Betts teria dado vários “likes” em tweets sobre o tiroteio em El Paso, incluindo um de apoio ao controle de armas e outros que chamavam o suspeito de atirar em El Paso de “terrorista” e “supremacia branca “.

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Legislação parada no Congresso

A Câmara dos Deputados aprovou uma lei de controle de armas que exige verificações federais de antecedentes para todas as vendas de armas, mas o projeto está parado no Senado. Embora existam divisões partidárias, há um amplo acordo sobre as medidas que o Congresso deveria tomar. No entanto, a Casa Branca já ameaçou vetar presidencialmente se tais medidas forem aprovadas pelo Congresso.

Enquete

Uma enquete feita pelo Gazeta News com leitores brasileiros nos EUA com a seguinte pergunta: “Afinal, regras mais rígidas de posse de armas levariam a menos tiroteios em massa nos EUA ou não adiantaria caso não haja política voltada à saúde mental da população?”, revelou que a maior parte dos que votaram, 109, acreditam que mesmo com maior rigor para compra e posse de armas, não seria suficiente para evitar um ataque a tiros em massa, enquanto 65 disseram que adiantaria.

Dessa forma, todos concordaram que uma saída para evitar esse tipo de ataque seria com o maior controle de armas aliado a uma maior assistência à saúde mental.

Mais de dois terços dos americanos, 69%, dizem que o racismo e o nacionalismo branco são responsáveis ​​pelos disparos em massa. Isso inclui 84% que se declararam democratas e 57% dos republicanos. Ainda, 73% dos entrevistados culpam o sistema de saúde mental como o fator que encabeça a lista, conforme pesquisa feita pelo USA Today\ Ipsos Public Affairs com 1004 pessoas e publicada na terça-feira, 6.

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Fonte: Gazeta News