“O novo normal” – os desafios da reabertura para empresários brasileiros na FL

The Locale em Boca Raton. Foto: Ricky Marcellini.

“O novo normal” – com a autorização do governo para reabrirem após dois meses fechados, brasileiros donos de restaurantes e outros negócios na Flórida cumprem as medidas e tentam se adaptar à nova realidade.

O impacto nos negócios gerado pela crise é sem dúvida muito grande. Para empresas com menos de 25 funcionários, a porcentagem de que há uma grande queda na demanda por seus produtos e serviços é ainda maior – em 70%, segundo resultados de uma pesquisa de impacto econômico realizada pela Florida Gulf Coast University.

“O desafio maior será a confiança das pessoas em sair”

Quanto aos desafios nesse período de reabertura, o proprietário do bar e restaurante The Locale em Boca Raton, Ricky Marcellini, acredita que será a confiança das pessoas para voltarem a frequentar espaços públicos.

“As pessoas precisam se sentir confortáveis em sair, quererem ir para a rua, o que leva um tempo. Tem muita especulação em torno da pandemia, muita mentira que acaba influenciando. Acho que elas vão se sentir mais confiantes para sair só mesmo quando tiver uma vacina e como não vai ter em menos de um ano, vai ser um processo mais longo”, analisa.

Brasileiros na FL se unem para ajudar pessoas em necessidade durante pandemia

Reaberto na quinta-feira, dia 14, o The Locale passou por uma limpeza geral, segundo o proprietário, além de um treinamento de equipe seguindo as regras do CDC, com todos os funcionários usando máscara e uma proteção de acrílico no rosto. “Colocamos também o espaçamento entre as mesas com paredes provisórias de acrílico e recebemos um número menor de pessoas dentro do estabelecimento”, acrescenta.

“Ficar parado foi péssimo, optamos por não funcionar com entrega ou retirada de pratos no local porque não é o perfil do restaurante. Demos folga para os funcionários, ficando somente a gerência e o chefe de cozinha trabalhando’, explicou.

The Locale em Boca Raton. Foto: Ricky Marcellini.

Durante o período em que esteve fechado, não houve trabalho de entrega ou retirada de comida, e a opção foi aproveitar para fazer reformas de manutenção. Agora reaberto, Marcellini conta como está sendo encarar a parte contábil. “Reduzimos as despesas, renegociamos o aluguel e entramos com pedido de ajuda do governo para pequenas empresas. Não vai resolver tudo 100%, vai segurar apenas por alguns meses. Começamos a fazer ‘delivery’ e ‘takeout’. Estamos lutando para não ficar no prejuízo, acredito que no mês de julho consiga ficar no 0 x 0, mas esse mês de maio e junho ainda vamos pagar mais do que recebemos”, explica.

A expectativa do empresário é que o governo libere para a fase 2 a partir da primeira semana de junho, “então poderemos voltar a fazer nossas festas e shows, que é uma das mais importantes receitas do negócio”, aponta.

O The Locale promove festas e shows com artistas e bandas brasileiras aos finais de semana, mas que por enquanto não poderão ser feitas e segundo o gerente, era uma receita superimportante.

Sem trabalho, brasileiros na FL se reinventam para pagar as contas durante a pandemia

Nesses dias em que já está reaberto, apesar de ser menos de uma semana, Ricky percebeu que 95% não entra usando máscara e não parecem tão preocupados com a pandemia. “São pessoas que estão mais abertas para relaxar e vêm para jantar fora como faziam antes e espairecer”, conta.

“Enquanto isso vamos nos reinventando, fazendo o delivery e entrega que não fazíamos antes, mas são importantes. Isso vai ajudar a pagar as contas, a manter o restaurante funcionando. Mas só vai voltar a ser rentável mesmo quando as pessoas voltarem a sair mais, a se confraternizarem e a socializarem como antes. Creio que talvez no fim do ano”, analisa. 

Ivanete Dombrowiski comanda o Picanha Brazil. Foto: arquivo pessoal.

Manter o preço e a confiança dos clientes

Proprietária de dois estabelecimentos brasileiros bastante frequentados no sul da Flórida, o restaurante Picanha Brazil, em Boca Raton, e a pizzaria Dipizza, em Parkland, Ivanete Dombrowiski conta que reforçou a higiene dentro dos estabelecimentos e implantou todas as recomendações do governo.

“Estamos tomando todas as precauções possíveis como por exemplo, como temos o buffet self-service, e as pessoas usam o pegador, as colheres, a gente dá uma luva descartável para que a pessoa se sirva com segurança e não seja risco para outra também. Todos os clientes devem usar máscara enquanto circulam dentro do restaurante, tirando somente para comer, e as mesas são colocadas com a distância solicitada de seis pés entre cada uma. Colocamos também vidro no caixa, na balança, na parte do churrasco. Tudo para que as pessoas venham em segurança”, destaca a empresária.

Segundo ela, os clientes estão voltando aos poucos. “Alguns até agradeceram que voltamos a funcionar. Mas ainda tem muita gente que não está trabalhando e outros não sabem que reabrimos”. 

Para a proprietária, o maior desafio será manter os preços tendo em vista que o valor de diversos produtos aumentou, o das carnes principalmente, segundo ela. “Além disso, as pessoas voltarem a ter segurança para sair e comer fora também é outro desafio”.

Andreia Boscato Muller mantém uma floricultura em Altamonte Springs. Foto: arquivo pessoal.

“Mercado das flores também é essencial”

Embora não seja restaurante, a floricultura The Flower Studio, localizada em Altamonte Springs, comandada pela brasileira Andreia Boscato Muller, também volta aos poucos ao “novo normal”.

Com a pandemia, Muller conta que no início teve diversos cancelamentos e remarcações das vendas para eventos, casamentos e de pedidos para o dia a dia, mas depois os pedidos por telefone e internet continuaram e a floricultura ficou fechada somente para entrada dos clientes.

“De acordo com o governador, podíamos fazer ‘entregas sem contato’ , então foi assim que conseguimos continuar entregando flores, que para muitas pessoas, são sim essenciais. Elas trazem alegria para muito gente. Fazem bem para a alma e para o coração!”, salienta.

Brasileiros falam sobre o impacto na rotina e nos negócios por causa do coronavírus

A empresária conta que as vendas antes da pandemia eram 75% por telefone e website. E agora estão em quase 98%.

Estamos autorizados pelo Seminole County a trabalhar com capacidade de 50%, mas por enquanto, resolvemos ainda não reabrir as portas para clientes visitarem a loja em horário normal e estamos atendendo somente com horário marcado. Provavelmente até passar o verão, aí voltaremos atender com horário normal.

Dentre as adaptações estão o distanciamento dos móveis / área de trabalho e álcool em gel à disposição dos clientes. “Pedimos também aos clientes que entrem na loja usando máscaras e que e já saibam o que gostariam de encomendar. Então, resumindo, quanto menos tempo o cliente passar dentro da loja, melhor. Assim elas nos protegem e se protegem também. Fazemos limpeza da porta depois de cada pessoa entra e sai”, destaca.

Planejamento e reserva financeira

Embora tenha continuado com as vendas, Muller conta que se inscreveram para ajuda e receberam o adiantamento de $1000.00 por funcionário pelo SBA loan e também se inscreveram para o *Paycheck Protection Program (PPP), conseguindo 2.5 vezes o valor da folha de pagamento. “Graças a Deus não precisamos do empréstimo do SBA”.

“Muitos negócios irão fechar, e nós, da The Flower Studio não seremos um deles. Temos um plano de negócio para 2020 e o seguiremos à risca. O que nos ajudou muito foi a lealdade dos nossos clientes e de nossos parceiros. E também a reserva monetária de emergência que conseguimos colocar em prática desde 2015. Para as empresas que sobreviverão a esta mudança de estilo de vida, recomendo ter um plano de negócios e criar um fundo de emergência. Esta foi a melhor decisão empresarial em toda a história da The Flower Studio”, finaliza.

*O Paycheck Protection Program (PPP) é um programa de empréstimos comerciais de US $ 669 bilhões, estabelecido pela Lei de Ajuda, Alívio e Segurança Econômica de Coronavírus (Lei CARES) para ajudar certas empresas, trabalhadores independentes, proprietários únicos, determinadas organizações sem fins lucrativos e empresas tribais a continuarem pagando seus funcionários.

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Fonte: Gazeta News